O que mais espanta é o papel assumido pelo ex-presidente Lula que, ignorando Dilma e os dirigentes do partido, age como os velhos coronéis que na primeira metade do século XX eram donos dos mandatos, e por consequência das consciências, de deputados e senadores. Lula negociou e determinou a ampliação da participação do PMDB na recente reforma ministerial, incluindo a indicação do deputado Celso Pansera, do Rio de Janeiro, para o Ministério da Ciência e Tecnologia –Pansera é aquele que o doleiro Alberto Yousseff denominou de “pau mandado” do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Num esforço patético, Lula pediu ainda à bancada do partido para poupar Cunha de um possível impeachment, num momento em que até mesmo os tucanos retiravam o apoio a ele. E agora prega, abertamente, a derrubada do ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
O que mais espanta é o papel assumido pelo ex-presidente Lula, que age como os velhos coronéis da primeira metade do século XX
A interferência de Lula no governo de Dilma, até há pouco sua pupila, não visa a busca de saídas para o país – fosse isso, usaria o que permanece de seu capital político para propor uma solução suprapartidária junto às outras lideranças, um pacto social, por exemplo. Na verdade, o movimento do ex-presidente não difere em nada de suas atitudes anteriores em situações semelhantes: como um imperador romano, ele condena aos leões todos os que atrapalham seus planos, sejam inimigos ou amigos –chamem-se José Dirceu, João Vaccari Neto, José Genoíno, José Carlos Bumlai ou Dilma Rousseff. Assim, sem comando, o país navega à deriva.
Ao longo da década de 1970, a Itália encontrava-se mergulhada num caos político que emperrava o desenvolvimento econômico. Membros de grupos neofascistas e das Brigadas Vermelhas promoviam sequestros e atentados, a máfia entranhava-se nas instituições públicas, os sindicatos paralisavam o país –situação apenas contornada a partir de meados da década seguinte, quando, fortalecido, o Estado neutralizou os extremistas tanto à direita quanto à esquerda, realizou a Operação Mãos Limpas para combater a corrupção e, com a economia reorganizada, diminuiu o número de greves. Aquele período de impasse está brilhantemente retratado no longa-metragem “Ensaio de orquestra”. Ali, Federico Fellini propõe uma reflexão a respeito da importância fundamental do maestro na condução da orquestra. Não há harmonia onde ausenta-se o comando –é o que parece deixar claro o cineasta italiano. Uma lição a ser aprendida.
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