segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Medo de cara feia

"As coisas estão indo bem e, no futuro, irão ainda melhor – não há com o que se preocupar." 

A frase acima, que resume bem o que a campanha presidencial de Dilma Rousseff dizia sobre o Brasil em 2014, é a fórmula utilizada por Cass Sunstein e Reid Hastie para definir "happy talk" (conversa feliz), que, segundo esses especialistas em teoria da decisão, é uma das principais e mais disseminadas fontes de fracassos coletivos.

Em "Wiser: Getting Beyond Groupthink to Make Groups Smarter" (mais sábio: ultrapassando o pensamento de grupo para tornar grupos mais inteligentes), Sunstein e Hastie não tratam do Brasil nem do governo Dilma, mas, ainda assim, explicam muito do que está ocorrendo por aqui.

É que os autores esmiúçam a literatura sobre a psicologia de grupos e, ao fazê-lo, revelam a incrível capacidade que conglomerados de gente, sejam eles organizacionais, governamentais ou mesmo nações têm de produzir erros e persegui-los com máximo afinco, sempre julgando que estão fazendo a coisa certa. Mostram também por que, nas condições certas, grupos se saem melhor do que indivíduos pensando e agindo isoladamente.

A "happy talk" aparece com destaque porque é um dos métodos mais eficazes de promover a complacência e calar dissensos que poderiam revelar informações capazes de corrigir o rumo. Ninguém, afinal, deseja ser o desmancha-prazeres que vai tirar todos de seu doce idílio –mesmo que ele não passe de uma ilusão.

Na segunda parte da obra, Sunstein e Hastie dão dicas do que fazer para aumentar as chances de sucesso de empreitadas coletivas. De novo, as coisas não ficam muito bem para Dilma. Segundo os autores, os melhores líderes costumam ser aqueles que estão ansiosos para descobrir o que está dando errado e conseguem fazer seus subordinados dizerem o que realmente pensam, sem medo de levar broncas ou enfrentar cara feia.
Hélio Schwartsman

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