Com isso, a chance de a política produzir reflexões e ações mais profundas tornou-se muito baixa , senão impossível. Nos tempos de vacas gordas na economia global, a peça no palco conseguia distrair o distinto público. Nos tempos de vacas magras, justamente quando a política torna-se mais necessária porque os remédios são amargos, o sistema revela sua total incapacidade de oferecer à nação ideias, propostas e ação.
A crise que vivemos no Brasil é profunda e envolve diversas dimensões da nossa sociabilidade. É sempre grande a tentação de sugerir que a crise tem uma espécie de “elo mais fraco” da corrente que, se resolvido, encaminharia a solução de todos os problemas.
Para uns, seria a gigantesca perda de poder da Presidência da República após a “ruptura de contrato” com a população que, se resolvida de um jeito ou de outro , abriria os caminhos da redenção. Para outros, o indispensável e severo ajuste das contas públicas por si só já nos entregaria as chaves da saída do inferno. E seria a higiene ética. E assim por diante...
É certo que o “hegemonismo” a qualquer custo ( e bota custo nisso ) do PT é um dos fatores. É mais do que certo que a “nova política econômica” de 2009 a 2014 é uma causa central do abismo em que nos metemos.
Mas também é certo que cortar despesas e aumentar a arrecadação são indispensáveis, mas não o suficiente sozinhos, para retomarmos o crescimento. Assim como seria inconcebível discutir qualquer coisa em economia em 1936 a não ser à luz da crise de 1929, é no mínimo curioso fazer o mesmo em 2015 sem ter a grande recessão de 2008, na qual o mundo está e continuará submerso por muitos anos, como pano de fundo da análise.
Nesse sentido, os equívocos da gestão petista são ainda maiores do que a megalomania sem projeto, a carência ética e o desastre da nova política econômica provocando a quebra nas finanças e agravando enormemente o, já antes dela, roteiro insustentável de crescimento da dívida pública.
O maior equívoco foi não entender, ou entender errado, ou simplesmente mentir, sobre a crise de 2008. Foi dizer à população que um tsunami era uma marolinha. Também foi achar que os remédios para a crise de 1929 serviam para a de 2008, como se nada tivesse acontecido no mundo desde então.
As dimensões da crise são muitas, mas o conhecimento é a chave para todas as portas de saída. Se o processo político ocorre sem que o conhecimento e os argumentos em uma retórica consistente tenham um papel, ainda que subordinado à luta pelo poder, o custo para sair do labirinto aumenta bastante.
Sérgio Besserman Vianna
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