sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Rebelião ou rendição das massas?

Em função de Renan Calheiros, o mandato da presidente Dilma pode estar momentaneamente preservado, ainda que não se tenha certeza do que poderá acontecer com as manifestações de protesto do próximo domingo. Ou também porque se desconhece todo o potencial do pacote de maldades do deputado Eduardo Cunha. Mesmo que Madame consiga superar o permanente inferno zodiacal fora de seu aniversário, ficarão cicatrizes difíceis de superar.

Como ela explicará, para seus biógrafos, haver renegado o ideário do PT para governar o país? Noves fora as mentiras da recente campanha presidencial, vale alinhar algumas iniciativas adotadas pela presidente desde o dia de sua segunda posse.

Prometendo não investir contra os direitos trabalhistas, mas até ampliá-los, Dilma reduziu o seguro desemprego, destroçou o abono salarial e as pensões das viúvas, estabeleceu que devem ser pagos os serviços prestados pelo SUS e vetou o aumento das aposentadorias de acordo com o reajuste do salário mínimo.

No reverso da medalha, também propôs revogar a desoneração da folha de pagamento das empresas, aumentou os juros e acabou com a isenção dos produtos da cesta básica. Engajou-se por inteiro na concessão de benesses ao sistema financeiro e não mexeu na escandalosa remessa de lucros para o exterior. Quase matou o FIES e cortou o sonho de milhares de estudantes pobres. Pior ainda, nenhuma solução apresentou para conter o desemprego em massa que assola o país. Tudo ao contrário do que havia sustentado ao pedir votos para sua reeleição. Também beneficiou os planos de saúde e não hesitou em cortar 10 bilhões da reais das dotações orçamentárias para a educação pública. E 40 bilhões da saúde.

Ainda que possa escapar da degola, expectativa ainda por ser demonstrada, Dilma carregará até o final de seu período de governo a mancha de haver-se tornado neoliberal, renegando o programa do PT. Coisa que o Lula fez no varejo, ela pratica no atacado. Talvez por isso ainda evite a defenestração, porque conta com o apoio das elites, às quais acaba de aderir por inteiro. Basta ver a súbita reviravolta no noticiário dos jornalões e penduricalhos da mídia, com algumas exceções. Querem preservá-la para preservar-se.

A conclusão surge lamentável: mais uma vez os anseios de mudança profunda nas estruturas sociais saem pelo ralo, permanecendo o mesmo modelo que predomina no planeta, do domínio dos poucos privilegiados sobre os ignorados. Cada vez mais revela-se a impossibilidade da pronta rebelião das massas, restando como consolo uma única saída: a rendição das massas. Exangues, algum poder precisará cuidar delas, caso venham a levantar os braços e render-se.

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