domingo, 2 de agosto de 2015

Nosso 'Cecil' morreu nos trilhos

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Morreu na contramão/atrapalhando o tráfego
 Chico Buarque

A morte do "rei" Cecil no Zimbéabue bombou nas redes brasileiras. Foram três ou quatro dias no noticiário e mesmo revistas de canal fechado chegaram a debater por dois dias seguidos o assassinato do leão com os mais extravagantes comentários, alguns de puro chavão. Cecil, morto, deu ibope e sua morte chocou o país como se aqui nada acontecesse de violento contra animais ou sequer humanos.
 

Somos mesmo o reino da hipocrisia. Fizemos do fato um escarcéu como se fosse o mais absurdo do mundo. Daí esquecemos (ou preferimos esquecer?) das barbaridades aqui na terrinha. A morte dos nossos animais pela caça e aprisionamento para exportação nunca ocuparam tanto espaço. Nem se revoltam tantos pela devastação das florestas matando milhares de animais de fome. Também não merecem esse absurdo de lágrimas o assassinato nas ruas e nos hospitais diariamente.
 

Na mesma época do caso do leão africano, o ambulante Adílio Cabral dos Santos, mulato, pobre e ex-presidiário, foi atropelado na via férrea e a SuperVia autorizou que o trem seguinte passasse por cima do corpo. Em, qualquer país de mínima humanidade seria escândalo, condenações governamentais, presidente mostrando indignação. No Brasil, acostumado a sobreviver sob a violência, virou algo rotineiro. A mídia não deu o destaque devido nem os tais colunistas, a nata da inteligência, se dignaram a gastar uma linha com o famigerado incidente.
 

O pobre, o negro, o presidiário, o idoso, o menor, o desassistido são meros números para colorir as promessas políticas, nem fazem os "imortais" que não se enquadram entre eles chorem lágrimas de crocodilo; as redes sociais e a mídia tratam como noticiário corriqueiro.
 

Um país que assim cuida de sua gente vai querer ainda ter um governo respeitável se não respeita nem sequer um cadáver? Nosso "Cecil" não mereceu nada mais do que um enterro em cova rasa com sacrifício da família e R$ 2 mil da SuperVia como indenização (de quê? do crime?). Nem mais um pio da "democrática" nação e da velha burguesia, hoje de cara eletrônica.

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