segunda-feira, 6 de abril de 2015

Rombo na caverna do Ali Babá

A febre privatizante dos tempos do governo Fernando Henrique chegou às raias da irresponsabilidade, conforme afirmação de um de seus ministros. Era preciso facilitar o financiamento de grupos privados empenhados em adquirir patrimônio público, já que dinheiro eles tinham muito pouco. O BNDES abriu seu cofre, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, também, mas mesmo assim não dava. Os compradores queriam comprar patrimônio público com dinheiro público, um negócio pirata que nenhuma CPI conseguiu investigar, porque quem mandava no Congresso eram os tucanos.

Para fechar a lambança, alguém lembrou dos fundos de pensão das estatais, verdadeiras fortunas amealhadas com a poupança de dezenas de milhares de funcionários que todos os meses contribuíam com parte de seu salário, imaginando dispor de uma aposentadoria mais justa, complementar. Era o governo que designava os gestores desses fundos, tornando-se fácil que se dispusessem a aplicar o vasto montante sob seu controle onde o palácio do Planalto mandasse, como nas privatizações.


Veio o governo do PT, passando a nomear companheiros para presidir os fundos, e a prática continuou. Claro que não mais para impulsionar as privatizações, mas para onde o Lula e sua turma indicassem. Acudir projetos oficiais, ajudar grupos em dificuldades e, certamente, partidos políticos. Não se tratava apenas de encontrar boa destinação para garantir o futuro dos funcionários das estatais, pois os empréstimos produziam juros, mas, em especial, socorrer empreitadas duvidosas e amigos em dificuldade. Com a eleição de Dilma, tudo continuou como antes. Os fundos de pensão eram a caverna do Ali Babá, onde os detentores do poder iam encontrar recursos mais do que vultosos, destinando-os às suas aventuras e fracassos.

O escândalo estourou semana passada. Os fundos dos funcionários dos Correios, da Petrobrás, da Caixa Econômica, do BNDES, do Banco do Brasil e de muitas outras empresas públicas investiram em bancos falidos, obras inviáveis e aventuras descabidas, até no exterior, tudo por ordem lá de cima. Resultado: estão falidos. O dinheiro das aposentadorias sumiu. Os funcionários atuais precisarão contribuir com adicionais extras, também tirados de seus salários, para tentar a recuperação de seu futuro. O total do rombo ultrapassa os 30 bilhões de reais.

Trata-se de um logro monumental. Uma vigarice que nada fica a dever a mensalões e petrolões. Com a diferença de que a Polícia Federal e o Ministério Público não podem entrar nesse sistema fechado de previdência complementar. A lei dispõe que os fundos são investidores de longo prazo, correndo riscos como os demais. Azar de seus funcionários…

Carlos Chagas

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