Nunca antes na história do país, os brasileiros deram tantos sinais de indignação com a roubalheira generalizada
Em setembro de 2012, um mês e pouco depois do início do julgamento do mensalão, até então o maior escândalo de corrupção da história do país, o ex-ministro da Justiça dos governos Lula, Márcio Thomaz Bastos, advogado de um dos 38 réus, comia uma banana em uma dependência reservada do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, quando ouviu a pergunta de um amigo: “O que houve para chegarmos até aqui?”
Thomaz Bastos parou de comer, temperou a garganta e respondeu em voz baixa sem olhar diretamente para o amigo: “Perdemos o controle da situação”.
Seguiu-se um longo silêncio antes que completasse: “Agora, só a alternância no poder poderá acabar com tudo isso”.
O amigo nada mais lhe perguntou. Ele voltou a comer a banana, uma fruta rica em potássio e que faz bem ao coração.
Saudades do mensalão! Movimentou uma ninharia se comparada com os valores desviados dos cofres da Petrobras. De resto, foi um escândalo que se limitou às fronteiras do Congresso e dos partidos.
É verdade que a “sofisticada organização criminosa” que operou o mensalão ambicionava controlar o aparelho de Estado. Foi descoberta a tempo. Dos 38 réus, 24 foram condenados.
O número de envolvidos com a roubalheira da Petrobras chega a 50. Gira em torno de R$ 2 bilhões o dinheiro que serviu para financiar partidos e enriquecer políticos e diretores da Petrobras.
O avanço das investigações da Operação Lava-Jatos reforça a cada dia que passa o sentimento de que a corrupção disseminou-se por toda parte com a cumplicidade dos governantes. E também com a decisiva ajuda de bancos e de empresas que sonegam impostos.
O PT dirá junto com a presidente Dilma Rousseff que a corrupção é uma velha senhora que nunca vai embora.
Ocorre que nos últimos 12 anos, ela foi uma senhora que engordou alimentada pelo projeto do partido de não se afastar do poder. De evitar por todos os meios legítimos ou não a alternância no poder, única saída sugerida por Thomaz Bastos para a situação que atravessamos.
Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa, uma das 14 empreiteiras que pagaram propinas para fechar negócios com a Petrobras, confessou à Justiça que sua empresa fez a mesma coisa para executar obras na Ferrovia Norte-Sul, iniciada em 1987 ainda durante o governo José Sarney. Quando concluída, ela terá 4.155 km e cortará 10 Estados. Um banquete para apetites insaciáveis.
As principais empreiteiras do país formaram um cartel para operar trechos da ferrovia. Houve também superfaturamento de contratos com a doação legal e ilegal de dinheiro a partidos e políticos.
Petrobras, Ferrovia Norte-Sul... O que mais? Ah, sim, a Usina de Belo Monte, no Sul do Pará, uma obra orçada em R$ 19 bilhões. Ali funcionou o mesmo modelo nefasto de atuação das empreiteiras.
Thomaz Bastos não era inocente a ponto de pensar que a alternância no poder fosse capaz por si só de pôr um fim à corrupção.
O que ele quis dizer, segundo o amigo que o interrogou, foi que a alternância desmonta ou enfraquece esquemas de corrupção em pleno funcionamento. Até que outros venham a substitui-los, se vierem, levará muito tempo.
Nunca antes na história do país, os brasileiros deram tantos sinais de indignação com a roubalheira generalizada.
Quem sabe não estamos às vésperas de mudanças de comportamento que afetarão certamente o que hoje se pratica à luz do dia, sem a mínima inibição, pudor ou receio, amparado na certeza de que ao fim e ao cabo a impunidade prevalecerá?
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