O círculo próximo do expresidente está convencido de que a condenação e a prisão são favas contadas. Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara dos Deputados, chegou a dizer, antes mesmo da aceitação, pelo STF, da denúncia por tentativa de golpe de Estado, que Bolsonaro “já é um pré-condenado”. Os discursos deste domingo serviram ao propósito de preparar o terreno para a reação à condenação de Bolsonaro.
O projeto de anistia não resolve o problema de Bolsonaro, pois o STF pode impedir sua aplicação. A direita bolsonarista precisa manter o assunto em voga, contudo, por dois motivos. Primeiro, para justificar a narrativa de que o Brasil vive uma ditadura do Judiciário que persegue a direita. Segundo, para reforçar o vínculo de lealdade entre Bolsonaro e seus seguidores. Ele precisa que seus apoiadores estejam convencidos de que sua liberdade, seus bens e até mesmo suas vidas estão em risco, e que, se seu líder vai se sacrificar para salvá-los, devem estar preparados para fazer o mesmo por ele.
Bolsonaro sintetizou as duas ideias, ditadura e perseguição, em uma fala: “Se eu estivesse no Brasil (em 8 de janeiro de 2023), estaria apodrecendo na cadeia ou teria sido assassinado pelos mesmos que colocaram esse vagabundo na Presidência”.
Ele quer que sua condenação e sua prisão despertem um grande clamor popular. O pastor Silas Malafaia, organizador dos atos pró-Bolsonaro, deu a dica: “Se os senhores (ministros do STF) prenderem Bolsonaro, o que pode acontecer no Brasil? Pode não acontecer nada, ou pode acontecer tudo!” Não é por acaso que o protesto do batom ganhou contornos religiosos tão acentuados. Bolsonaro, disse Michelle, é o “escolhido” por Deus para enfrentar a “maldade de alguns do STF”. O ato deste domingo, apesar de toda a fanfarra em torno da ideia de aprovação de uma anistia para os “inocentes” do 8 de Janeiro, representou, isso sim, o início da incitação de uma futura revolta contra a condenação de Bolsonaro.
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