A parcela que paga não reclama do pedágio chamado mensalidade porque vê educação como benefício familiar, não como atalho para o futuro do Brasil; aqueles que têm os filhos em cursos públicos sem qualidade não reclamam porque veem a escola como favor do Estado, sobretudo pela merenda e a guarda da criança por algumas horas em cada dia, não um investimento para o futuro de cada brasileiro e da nação. Não imaginamos a escola como estrada para o futuro do país.
Nos acostumamos com a ideia de que o Estado deve construir e manter estradas geográficas para todos, independente de quem as utiliza — mas a educação das crianças deve ser paga por seus pais ou mantida pelos pobres municípios sem condições de assegurar a qualidade necessária. Desejamos todas as estradas boas e públicas, mas aceitamos que a educação seja privada e sem qualidade igual para todos. O Brasil já despertou até mesmo contra o amargo pedágio da queima de florestas, mas ainda não para a constante queima de cérebros em escolas sem qualidade. Não temos a percepção da educação como alavanca do progresso, daí não sentirmos amargura no pedágio que alguns desembolsam para a educação privada de seus filhos, nem no imenso custo da omissão ao nos contentarmos com poucas crianças concluindo o ensino médio com qualidade: alfabetizadas para o mundo moderno.
A escola não é vista com a nobreza de uma estrada, uma ponte, aeroporto ou hidrelétrica. Além disso, cada criança é vista isoladamente, não como parte do conjunto da inteligência que o país precisa para construir seu futuro. Em consequência, o pedágio não parece amargo, uma vez que os ricos se beneficiam privadamente, e a sociedade não considera o desperdício de talento intelectual, por omissão com a educação de base.
Exige-se que as estradas para deslocamento entre cidades devam ser públicas, mas tolera-se a privatização das escolas, estradas para o futuro sem necessidade de qualidade para todos. A sociedade brasileira aceita o pedágio para o futuro, por mensalidade privada ou por omissão pública, sem a amargura sentida ao pagar pedágio em rodovias entre cidades.
Se houvesse consciência da importância da educação como o vetor do progresso, para a vida do aluno e o desenvolvimento do país, o Brasil não aceitaria uma única escola sem qualidade: nem pedágio por mensalidade para os filhos dos ricos, nem a perda do talento de cada criança.
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