O Brasil só me interessa profissionalmente. Fora do expediente, desligo do país, na medida do possível. Numa cidade como São Paulo, fica mais fácil, a depender do bairro; em Brasília, capital federal, suponho que seja mais mais difícil, não importa o setor, assim como na ex-capital federal Rio de Janeiro, em qualquer zona. As paisagens arquitetônico-tropicais são demasiadamente arquetípicas.
Como sou obrigado a me interessar profissionalmente pelo Brasil, tenho de assistir à transmissão de sessões e audiências, de julgamentos e de cerimônias. É difícil ir ao conteúdo, porque a forma prepondera, com o português levando surras que eu diria homéricas como os porres — e eu procurando salvar, ao menos mentalmente, concordâncias e regências. Acho até que concordância e regência corretas já nos garantiriam alguma governabilidade.
O português já foi melhor, os ternos nem tanto, e a ironia e o sarcasmo também tiveram dias mais radiosos. Exagero. Dias menos nublados.
O lulismo e o bolsonarismo, com a obtusidade, a vulgaridade e a corrupção da linguagem que lhes são peculiares, apagaram as poucas boutades inteligentes, respostas espirituosas e farpas sutis com as quais a política brasileira e também a imprensa política costumavam ser parcialmente iluminadas.
Ficou ainda mais aborrecido, portanto, interessar-se profissionalmente pelo Brasil. Resta-nos procurar espirituosidade em outras latitudes.
Sobre os personagens nacionais que povoam o meu cotidiano de trabalho, importo da França o que uma ex-conselheira do presidente Jacques Chirac disse a respeito dele: “Eu achava que ele era feito do mármore das estátuas. Na realidade, ele é da louça da qual são feitos os bidês”.
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