O 7 de setembro de 1822 é a certidão de nascimento do Brasil. Nossa “gestação” como país foi turbulenta. Gravidez de risco: “um povo feito de povos desfeitos”, lembrou Darcy Ribeiro (1922-1997).
A amorosidade dos originários, nossa raiz, fecundou-se em exploração, crueldades e violências de todo tipo. E resistência também: nos quilombos, nas guerras nativas, na mística da religiosidade, na música. Os atabaques ecoam nas mil e uma noites do Brasil.
Nascemos em profunda desigualdade: escravização, latifúndio, monocultura de exportação. Crescemos sob o mando da aristocracia dona de terra e gente, nos tornamos República com pouco republicanismo, “com mais estadania que cidadania” (“Os bestializados”, José Murilo de Carvalho, 1939-2023).
Dois séculos depois ainda há fortes sequelas: precarização do trabalho, desemprego estrutural, concentração de renda, reprimarização da economia, commodities.
Hoje é dia de celebrar o mínimo que é muito: a data nacional sem golpismo oficial, sem “patriotismo” de entreguismo. Pequenos mas significativos avanços na Saúde, nas políticas sociais, na racionalidade civilizatória. O obscurantismo ainda rosna, mas perdeu postos de comando.
Somos 203 milhões: povo da raça Brasil, afrotupis, judárabes, euromestiços.
A bota saiu do nosso pescoço, podemos respirar. Mas ainda há muita dependência na nossa independência, muita Nação a se construir.
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