Alguns desses golpes inovaram na forma. Em 1937, Getulio Vargas deu um autogolpe, promovendo-se de presidente quase outorgado a ditador sem disfarce. Em 1961, Jânio Quadros inventou o golpe pelo suicídio: renunciou à Presidência, esperando voltar "nos braços do povo" e governar sem o Congresso. Mas o Congresso aceitou sua renúncia, o povo cruzou os braços e ele foi lamber sabão. E, em 1968, com o AI-5, os militares deram o golpe dentro do golpe, para asfixiar o mínimo de legalidade que restava.
Mas nenhum chegou perto do perigo que Bolsonaro representou para a democracia. Seu projeto era o de se eternizar no poder. O primeiro mandato seria para a firme costura dos órgãos internos (daí a dificuldade do novo governo para desfazer esses nós). No segundo, viria a camisa de força. Só que as urnas frustraram o seu plano e, no desespero, ele partiu para o supergolpe no 8/1 —que, pela audácia, terá de custar-lhe caro. Custará?
Getúlio nunca pagou pelas torturas e mortes que praticou. Assim como, negando todas as evidências, não há militar pós-1964 que sequer reconheça a tortura em seus quartéis. É esse passado de leniência que gera os Bolsonaros.
Bolsonaro não tem apenas um passado pelo qual responder. Se não for neutralizado, nós é que teremos de responder pelo futuro.
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