sexta-feira, 5 de maio de 2023

A investigação parlamentar da discórdia no Brasil

No Brasil costuma-se dizer que as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) acabam todas em pizza, uma forma de expressar que nunca resolvem nada. Tudo costuma ficar em águas de barragem. Neste momento, no início do governo Lula, meia dúzia dessas investigações se reúnem no Congresso.

Um delas, porém, aquela que tenta estripar o golpe fracassado de 8 de janeiro, chamou a atenção do público e se tornou mais um caso psiquiátrico. Ao invés de ter sido proposto, como seria lógico, pelo Governo investigar as responsabilidades que a oposição poderia ter tido no golpe, tem sido o contrário. Foi o governo que tentou barrar a investigação e chegou a impor sigilo de cinco anos sobre as imagens que pudessem existir da devastação realizada pelos golpistas nas três sedes – do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e da Presidência da República do Brasil.


Tudo se complicou quando a rede CNN Brasil começou a publicar imagens daquele fatídico dia em que apareceram personagens que deveriam estar tentando impedir a invasão, caminhando tranquilamente entre os golpistas e até oferecendo-lhes água. Tem sido assim que parlamentares da oposição, como Ciro Nogueira, se questionaram, com boa dose de sarcasmo, em artigo publicado no jornal Globo, que as imagens daquele dia indicam que o Palácio “não foi simplesmente tomado pela máfia”. Ele teve acesso permitido com um tapete vermelho. Dos 2.000 profissionais que protegem a sede do Executivo, apenas 18, digo 18, estavam lá. E acrescenta: “Havia uma espécie de camaradagem entre invasores e invadidos”. E lembra que quem confraternizou com os invasores, segundo as imagens, era um general de absoluta confiança de Lula, já que era sua guarda pessoal há quase 20 anos.

A estratégia da oposição, que propôs essa investigação contra a vontade do governo, é tentar absurdamente provar que Lula estava interessado naquela invasão de Brasília para usá-la contra Bolsonaro. Portanto, o Governo teria fechado os olhos.

É, sem dúvida, uma estratégia arriscada do bolsonarismo, já que mais de 1.000 pessoas que estão sendo julgadas como terroristas acabaram detidas e encarceradas, enquanto procura-se os empresários que poderiam cobrir as despesas dos bolsonaristas, que estavam acampados na porta dos quartéis, pedindo golpe militar e a queda de Lula.

Que o fracassado golpe terrorista que tentou impedir Lula de governar não foi apenas idealizado, mas também organizado pelos seguidores de Bolsonaro enquanto ele se refugiava nos Estados Unidos, não há dúvida. E é possível que, a princípio, ao pegar de surpresa o recém-iniciado governo Lula, aquele golpe de Brasília, coração do poder político, tenha retardado a reação dos responsáveis por deter o golpe, o que poderia ter dado a impressão equivocada de que o Executivo estava interessado em sua existência para ter um argumento contundente contra o ex-presidente.

Foi isso que fez parecer à primeira vista que o novo governo não estava interessado em abrir uma investigação parlamentar, pois sabe-se como começam, mas não como terminam as CPIs, algo que está a ser usado a seu favor pela oposição, que perguntou com certo gosto por que o governo não queria a investigação.

O que o Governo terá de fazer agora é que sua mão não trema na hora de exigir que Bolsonaro preste contas como responsável direto pela tentativa de golpe. Ele já voltou do exílio e já começou a campanha para as eleições municipais do ano que vem. É urgente que ele não apenas seja declarado inelegível por oito anos, mas que seja processado e preso sem medo de que isso possa torná-lo um mártir diante dos seus.

Trata-se de um golpista declarado e perigoso que perdeu, ainda que por pouco, as eleições, mas que pretende reorganizar a oposição a um governo que chama de comunista. E que ainda mantém uma perigosa brasa de defensor dos valores de Deus, da pátria e da família, que acaba permeando as classes mais pobres, entre as quais estão os 30% de evangélicos que o seguem fielmente e que, apesar de todos os esforços , Lula não conseguiu conquistar.

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