quinta-feira, 8 de setembro de 2022

A facada, desta vez, foi Bolsonaro quem deu na Constituição

Bolsonaro brigou com Michelle à saída do Palácio da Alvorada. Ela não queria desfilar no carro ao seu lado a céu aberto. Mas acabou cedendo. Exigência do marketing político, preocupado com o voto evangélico. Lembre-se do que disse Heloísa Bolsonaro, casada com Eduardo, o deputado, a respeito das mulheres:

“Não existe mulher insubmissa, livre e independente”.

No alto do carro de som, alugado pelo agronegócio para que ele falasse à multidão reunida na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro brigou outra vez com Michelle. Para ser exato: foi ela que brigou com ele. Bolsonaro comparou-a com Janja, mulher de Lula, beijou-a para sair na foto e exaltou seu próprio vigor sexual:

“Imbrochável, imbrochável, imbrochável”.

Michelle não gostou da cena. Sentiu-se humilhada. No passado, e foi Bolsonaro que contou, ele havia dito numa entrevista que era imbrochável. Para justificar porque ocupava um apartamento funcional da Câmara, embora fosse dono de apartamento em Brasília, disse que o seu era “para comer gente”. Michelle detestou.


Bolsonaro também brigou com a deputada Bia Kicis (PL), que queria falar depois de Michelle. O marketing político da campanha desaconselhou. Foi Kicis quem aproximou Bolsonaro de Paulo Guedes, em 2017. E de empresários americanos conservadores que lhe ofereceram apoio. Ingratidão de Bolsonaro.

Filmaram Bolsonaro brigando com Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, convidado para acompanhá-lo no palanque oficial do desfile cívico militar. Motivo? Não se sabe. Hang é um dos oito empresários investigados por supostamente conspirar a favor de um golpe militar. Convidados, os outros sete faltaram.

Não foram os únicos a faltar. Os presidentes dos demais Poderes da República não perdem um desfile de 7 de setembro. Porque o deste ano estava mais para comício do que para desfile, não puseram os pés por lá. Que Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal, não fosse, Bolsonaro entenderia, mas, …

Mas Arthur Lyra (PP-AL), presidente da Câmara, e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, fugirem da raia a pretexto de que estavam com a agenda cheia? Logo eles, beneficiados com fatias gigantes do Orçamento Secreto? Mal agradecidos. Bolsonaro não é de perdoar ninguém que o contrarie.

Porta-vozes informais de Bolsonaro plantaram na mídia que ele ficou eufórico com o showmício militar na praia de Copacabana. Em parte, ficou, dado o tamanho da multidão. Mas também ficou furioso. Quase não foi ouvido, de vez que o som estava péssimo, e o sinal da internet oscilava, o que dificultou a transmissão ao vivo.

Dali, Bolsonaro foi ao Maracanã assistir ao jogo Flamengo (2) x Velez (1). Na chegada ao camarote foi tudo bem: aplausos e gritos de Mito. Mas, aos poucos, espalhou-se pelo estádio a notícia de que ele estava lá, ao alcance de gritos. E a arquibancada em massa, acostumada a vaiar até minuto de silêncio, entoou:

“Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu”.

Foi um final de dia à altura de um presidente da República parasita; que parasitou o desfile cívico-militar do Bicentenário da Independência transformando-o em um ato de campanha bancado com dinheiro público; um presidente que nos estertores do seu mandato apunhala a Constituição que jurou respeitar.

Acionada, como reagirá a Justiça Eleitoral? Se o princípio de que a lei é para todos fosse mais do que um enunciado vazio, Bolsonaro seria punido exemplarmente – e quem depois dele se arriscaria a desafiar a Justiça? Mas esse é o país onde há lei que pega e lei que não pega; e a lei que pega vale para uns e não para outros.

Se Bolsonaro não se reeleger, será muito fácil explicar porque. Mas caso se reeleja, já foi mais difícil explicar.

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