sábado, 18 de junho de 2022

Bolsonaro, um presidente treinado para matar e imune à dor alheia

Sabe quantas vezes Bolsonaro referiu-se pelo próprio nome ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista Dom Phillips desde que os dois desapareceram no último dia 5 e os seus corpos finalmente foram encontrados 11 dias depois?

Nenhuma. Repetindo: nenhuma vez Bolsonaro os chamou pelo próprio nome. Nem mesmo no comentário que fez ao pé da nota oficial da Funai publicada no Twitter lamentando a morte de Bruno. O comentário anódino limitou-se a duas linhas:

“Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos”.

Familiares de quem? Sabe-se de quem porque o comentário está apenso à nota. Não fosse a morte do jornalista inglês, Bolsonaro não teria lamentado a de Bruno, como não lamentou a de Maxciel Pereira dos Santos, servidor da Funai, assassinado há dois anos.


Bolsonaro usou a expressão “esse inglês” para não dizer o nome de Dom Phillips, e “os dois” ou “ambos” para não dizer o nome deles. Comentou a nota da Funai porque foi aconselhado a fazê-lo por gente preocupada em que ele não ficasse totalmente mal na foto.

O que vai na mente escura e pantanosa do presidente do Brasil? O que o leva a não se importar com a vida dos outros? Verdade que ele foi treinado para matar, como já disse, e quem mata por profissão deve ser mais ou menos imune à dor que provoca.

“Morram os que tiverem de morrer”, ele disse durante a pandemia da Covid ao prescrever cloroquina para os que não quisessem ficar doentes. “Não sou coveiro.” Imitou uma pessoa arfando por falta de ar. Em Manaus, cerca de 30 morreram por falta de oxigênio.

Em 1998, como deputado federal, proclamou:

“Competente foi a cavalaria norte-americana que dizimou os índios no passado livrando-se de um problema”.

Eleito e empossado presidente, debochou:

“Dizem que a Dilma foi torturada e que fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio X”.

O que o leva também a enxergar conspiração em tudo e no que não existe? De novo, sua formação militar. Sem inimigos, como os militares estariam prontos para ir à guerra em defesa do seu país? Os nossos não sabem o que é uma guerra há muito tempo.

Então, inventam inimigos internos para combater. Foi assim em 1964, quando suprimiram a democracia porque o comunismo a ameaçava. Contraditório, não? Sob o comando do ex-capitão, parte dos militares vê outra vez a democracia em perigo. Culpa do PT.

Antes de se eleger presidente, os generais tratavam Bolsonaro com o desdém reservado no passado às vivandeiras de quartéis. Agora, o exaltam com entusiasmo (nada a ver com o Viagra). Quem mudou? Os generais ou Bolsonaro? Os generais se rebaixaram.

Nenhum comentário:

Postar um comentário