sábado, 18 de junho de 2022

A Amazônia não é brasileira

São tolos e mal informados os que pensam que a Amazônia é brasileira. Não. A floresta não pertence ao Brasil ou Colômbia, Venezuela, Peru, Equador e Guianas. Sua imensidão territorial se estende por estes países e colônias, mas sua importância ultrapassa toda e qualquer fronteira. Parece que vai demorar muito ainda até que se perceba que para salvar o mundo será necessária uma política globalmente estruturada para defender a Amazônia. Pode ser tarde. Por ora, quem tenta proteger a floresta de seus algozes são homens bons como Bruno Pereira e Dom Phillips. E estes são sistematicamente sabotados por governos ou assassinados por pessoas com interesses contrariados.

O que Bruno e Dom buscavam não era uma utopia, um sonho, um ideal. Eles lutavam por uma causa possível. A Amazônia tem solução. A primeira e mais urgente é entender que, embora não se questione as soberanias dos países amazônicos sobre seus territórios, é fundamental que haja participação mundial na defesa da floresta. Participação com recursos, equipamentos e homens. Não se trata de um território qualquer. Ao contrário. A simples busca pelos corpos e do barco de Bruno e Dom mostrou como é intrincada e complexa a região. Tampouco se pode ignorar a sua dimensão.


Países como Brasil, Venezuela e Colômbia, que mal conseguem controlar o crime nas suas grandes cidades, tornam-se ainda mais impotentes diante da enormidade da floresta. Vejam os exemplos do tráfico e das milícias em comunidades como Alemão e Rio das Pedras, ou em Petare, a maior favela venezuelana. A Comuna 13, berço do traficante Pablo Escobar em Medellín, foi durante anos região inexpugnável pelo Estado colombiano. Se até aí os Estados nacionais ou locais são incapazes, imagine na Amazônia.

No caso do Brasil, além da falta de recursos, falta boa vontade do governo federal para agir contra os crimes cometidos na floresta e contra ela. Jair Bolsonaro é o maior incentivador da bandidagem instalada na Amazônia. O presidente defende garimpeiros, madeireiros, grileiros e os que querem expandir a fronteira agrícola para o interior da floresta. O mesmo presidente que defende o marco temporal para reduzir os territórios indígenas e ataca o Supremo dizendo que não acatará sua decisão se ela lhe contrariar.

Foram muitos os sinais em favor dos crimes e de criminosos ecológicos emitidos pelo governo Bolsonaro. Um dos mais eloquentes foi a fala do ex-ministro Ricardo Salles naquela reunião ministerial em que pediu que o presidente aproveitasse que o foco da imprensa estava na Covid para “passar a boiada”, desmontando onde fosse possível o arcabouço legal em favor do meio ambiente. Se grandes criminosos ambientais sentem-se confortados pela política do vale-tudo governamental, o mesmo ocorre com pés de chinelo como os irmãos Amarildo e Dos Santos, assassinos de Bruno e Dom.

Claro que Bolsonaro é culpado por estas mortes pelas razões expostas, mas é evidente também que crimes anteriores contra ativistas como o seringalista Chico Mendes e a irmã Dorothy Stang também devem ser atribuídos à frouxidão dos governos da sua época. O seringalista do Acre foi assassinado por outros dois pés de chinelo, o pequeno agricultor Darly Alves dos Santos e seu filho Darci. O assassinato da irmã em Anapu foi encomendado também por um pequeno fazendeiro que se sentia acima da lei.

Chico Mendes, que virou mártir e hoje empresta seu nome para um órgão do Ministério do Meio Ambiente (ICMbio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), morreu no governo Sarney, em 1988. Dorothy Stang foi assassinada ainda no primeiro mandato de Lula, em 2005. Obviamente, Lula e Sarney não estimulavam garimpeiros e madeireiros nem atacavam indígenas. Sarney demarcou 67 reservas e Lula, 79. Mas faltaram a ambos recursos, equipamentos e homens para defender estes territórios e a própria Amazônia. Por isso a importância de abrir a floresta a todos os que estiverem dispostos a trabalhar para salvar o mundo.

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