Entendi que, ao pedir que alguém lhe esclareça o que vai acontecer no Brasil nos próximos sete dias, ele não espera um exercício de futurismo, mas uma explicação lógica. Tom não é um principiante. Ele trabalha há quase 15 anos como correspondente estrangeiro, foi chefe de sucursal na China e já cobriu de tudo, de terremoto no Haiti a tufão nas Filipinas, de manifestação em Hong Kong a eleições no México. A questão é que nem alguém com a sua experiência consegue mais lidar com o Brasil, em que é “Vixe!” em cima de “Eita!” 24 horas por dia, fins de semana inclusive.
Acompanhei o tuíte para ver se, por acaso, aparecia alguma luz. Eu também gostaria que alguém me dissesse o que raios vai acontecer por aqui nos próximos dias. Não rolou.
“Não fazemos planos para o futuro”, respondeu @Cardoso.
“Conseguimos previsões de, no máximo, 7 minutos. Sorry”, escreveu @SamPancher.
“Boa. Próximos sete não sabemos. Mas depois do dia 8 vai ter cada nota de repúdio que você nem imagina...”, previu @lesalles.
“Ainda não entendi o que aconteceu nos últimos sete”, constatou @gustavo_spier.
Foram 268 respostas durante as três horas em que segui o tuíte, mas nada nos trouxe qualquer esclarecimento (nem Deus, que atende por @OCriador, ajudou).
“O presidente não vai trabalhar durante seis dias, e descansará no sétimo”, concluiu @salvadormor_tt.
A gente ri, mas é de nervoso.
Não respondi ao apelo de @tomphillipsin. Não tinha nem boa resposta, nem bola de cristal à mão. A verdade é que, no fundo, confio na incompetência e na falta de ambição do presidente. Acho que, ao longo dos próximos dias, vamos ver mais do mesmo — o que não é pouco, e pode ser perigoso, sobretudo se torcidas antagônicas ocuparem os mesmos espaços.
Mas golpe? Golpes precisam de ambiente propício, de um elemento de surpresa e de alguma inteligência por trás, coisas que não existem no caso.
Ainda assim, ter na presidência um homem tão prejudicado intelectual e emocionalmente é um risco enorme para a democracia. Um golpe não é a única ameaça que existe à vida saudável de um país; o estado de insegurança permanente em que vivemos, a tensão constante, as crises armadas a partir do nada — tudo isso corrói o tecido social e impede a paz.
Ainda assim, ter na presidência um homem tão prejudicado intelectual e emocionalmente é um risco enorme para a democracia. Um golpe não é a única ameaça que existe à vida saudável de um país; o estado de insegurança permanente em que vivemos, a tensão constante, as crises armadas a partir do nada — tudo isso corrói o tecido social e impede a paz.
O presidente não tem noção do que seja “paz”. O conceito é abstrato demais para ele, um homem atormentado, em luta consigo mesmo, que não concebe a vida sem ressentimento e conflito.
Mais do que os próximos sete dias, me preocupam de verdade os próximos 484, que é o tempo que ainda falta até o fim do mandato. Se ninguém tomar uma providência antes disso, vamos viver até janeiro de 2023 nesse sobressalto, míseros personagens do jogo de um cretino que sonha com guerra civil.
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