Bolsonaro mandou que o general Paulo Sérgio deixasse impune o general Eduardo Pazuello, que subiu num palanque; temeroso da quebra da hierarquia, o comandante do Exército obedeceu e abriu a porta para a anarquia militar. O presidente do Superior Tribunal Militar, general de quatro estrelas Luis Carlos Mattos, fez pior: deu entrevista revelando-se bolsonarista entusiasmado e ameaçando ruptura democrática. Paulo Sérgio deixou o colega de alto-comando impune sem que Bolsonaro precisasse sequer dar a ordem.
Pouco tempo atrás, um coronel do Ministério da Saúde contratou uma obra milionária, sem licitação, com empresa suspeita. Mais recentemente, quatro coronéis do ministério, antes subordinados ao então secretário-executivo, coronel Elcio Franco (a esta altura, suspeito), foram acusados de corrupção. E todos, incluindo Franco, foram nomeados por Pazuello (também suspeito). Um dos encontros para atravessar vacinas foi intermediado por um coronel da “Abin paralela” do presidente; outro, por um coronel presidente de uma ONG bolsonarista.
Diante dos escândalos, o general Hamilton Mourão declarou que “o Ministério da Saúde sempre foi um lugar onde a corrupção andou” e que “você não consegue da noite para o dia desmanchar uma estrutura” (sete dos oito suspeitos na “estrutura” foram nomeados no atual governo). O vice-presidente também achou banal o presidente ser acusado (e culpado) de crime de prevaricação: “Todos os presidentes sofreram alguma acusação”. Já a prisão de Roberto Dias levou as Forças Armadas a emitir uma nota intimidatória para proteger militares mentirosos. Com atitudes assim, nunca um militar corrupto será preso. Não é de admirar que a aprovação das FFAA tenha caído 12 pontos em dois anos.
Bolsonaro, classificado pelo ex-presidente Ernesto Geisel como “mau militar” e forçado a sair do Exército por planejar explodir bombas em quartéis, é inimigo das Forças Armadas e investe contra elas. É espantoso que tenha o apoio ostensivo de tantos militares. Ainda mais espantoso é quão raros são os militares que se mostram dispostos a resistir.
É compreensível que homens de farda íntegros se sintam constrangidos em tomar atitudes que possam ser percebidas como indisciplina. Mas se esses militares íntegros não resistirem e não defenderem as FFAA, Bolsonaro as transformará em sua milícia pessoal. Os civis, sozinhos, não têm condições de defender as Forças Armadas.
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