segunda-feira, 12 de julho de 2021

Por vezes desanimo. Não desanimamos todos?

Há três dias, descendo uma rua de Lisboa com a minha filha de 3 anos, Kianda, fomos interrompidos por uma simpática velhinha. Kianda vinha conversando alegremente com as irmãs imaginárias, que por esta altura já são três, Nurita, Karen e Liza (felizmente meninas imaginárias não se alimentam de comida real). A velhinha achou graça ao falatório:

— Muito falas tu — disse, sorrindo para a menina. — De que tanto falas?

Kianda olhou-a, muito séria:

— Tu vais conseguir! — retorquiu. — Tu vais conseguir vencer os monstros.

A senhora estremeceu:

— Que monstros?

Kianda ergueu o punho direito, como sempre faz quando se transforma em super-heroína:

— Os vampiros!

A velha senhora estremeceu, quase em lágrimas:

— A voz das crianças é a voz de Deus…

Deixamos a pobre mulher atordoada, convicta de que recebera uma mensagem divina, e prosseguimos o nosso passeio.

— Porque disseste aquilo à senhora? — perguntei.

— Não fui eu. Foi a Liza.

Liza ou Deus, tanto faz. Gosto de pensar que o breve encontro mudou a vida daquela pessoa. Talvez a velhinha tenha chegado em casa decidida a enfrentar os vampiros, quaisquer que eles fossem, todos nós conhecemos algum — e os tenha vencido. Espero que sim.

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Vladimir Putin decretou que só os vinhos espumantes russos podem, a partir de agora, receber no país a designação de champanhe. O legítimo champanhe francês, lenta e laboriosamente criado na região de Champagne, na França, passará a ter no rótulo a designação de “vinho espumante”.

Acho um golpe de gênio. Vale para tudo. Amanhã, Vladimir Putin pode, por exemplo, decretar que só o sistema político vigente na Rússia tem legitimidade para ser classificado como democracia. Tudo o resto, incluindo as avançadas democracias do norte da Europa, terão de ser classificadas como oligarquias, plutocracias, ou democracias autoritárias. O mesmo decreto poderia acrescentar que a expressão magnata só pode ser aplicada aos milionários russos. Os milionários americanos terão de ser chamados oligarcas. “Direitos humanos”? Só na Rússia. O resto do mundo que se contente com a expressão “direitos humanos para humanos direitos”. “Carnaval”? Só na Rússia. Os brasileiros que usem a expressão “festas profanas da quaresma”. “Feijoada brasileira”? Apenas em Moscou. Os brasileiros que usem a expressão “feijoada russa do Brasil”. E por aí fora.

De certa forma, a ideia de Putin aprofunda o conceito de “fatos alternativos”, criado por Donald Trump e os seus ideólogos, para designar aquilo a que até então todos nós chamávamos, ingenuamente, “mentiras”. São, portanto, “mentiras melhoradas”. Mentiras melhoradas, é claro, são mentiras muito mais daninhas que as mentiras comuns.

“Aprimorar o mal para torná-lo pior”. Eis um lema que Vladimir Putin, Donald Trump ou Jair Bolsonaro poderiam adotar.

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Por vezes desanimo. Não desanimamos todos? Mas depois presto (também eu), atenção à voz das crianças. Talvez Kianda, Liza ou Deus, estivesse, afinal, falando comigo. Conosco. Vou conseguir. Vamos conseguir. Havemos de vencer os monstros!

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