Segundo relatório elaborado pela ONG internacional, estima-se que atualmente 11 pessoas morram de fome por minuto. "Esse número supera a atual taxa de mortalidade pandêmica, que é de sete pessoas por minuto", aponta a ONG.
Cerca de 155 milhões de indivíduos vivem atualmente sob níveis extremos de insegurança alimentar, 20 milhões a mais do que no ano passado, aponta o relatório, intitulado "O vírus da fome se multiplica". O número de pessoas que vivem em condições de fome estrutural aumentou cinco vezes desde que a pandemia começou, para mais de 520 mil.
A ONG calcula ainda que, até o final de 2021, cerca de 12 mil pessoas poderão morrer diariamente de fome associada à pandemia, potencialmente mais do que os óbitos pela própria covid-19.
"O pior ainda está por vir, a menos que governos enfrentem com urgência a insegurança alimentar e suas raízes", alertou a organização em comunicado.
"As estatísticas são chocantes, mas devemos lembrar que esses números são compostos por indivíduos enfrentando sofrimentos inimagináveis. Uma única pessoa já seria demais", disse a presidente e diretora executiva da Oxfam America, Abby Maxman.
A Oxfam listou os países que considera serem mais vulneráveis à fome no mundo e onde a crise alimentar já existente foi agravada pela pandemia do coronavírus. Afeganistão, Etiópia, Sudão do Sul, Síria e Iêmen – todos dilacerados por conflitos – viram aumentar os níveis extremos de fome desde o ano passado, diz o relatório.
Venezuela, República Centro-Africana e Sahel também estavam na lista de polos da fome da Oxfam, assim como Índia e Brasil, que atualmente amargam altos índices de infecção e morte por covid-19.
No Brasil, o percentual da população que vive em extrema pobreza quase triplicou desde o início da pandemia, passando de 4,5% para 12,8%, aponta a Oxfam. "No final de 2020, mais da metade da população – 116 milhões de pessoas – enfrentava algum nível de insegurança alimentar, das quais quase 20 milhões passavam fome", diz o relatório.
As causas da crise
Segundo a Oxfam atribuiu o aumento a uma combinação de três fatores: conflitos armados em curso em diversas partes do mundo, o impacto econômico da atual pandemia e à crise climática global. Tal combinação de fatores teria aprofundado a pobreza e a insegurança alimentar nos locais já afetados pelo problema, além de criar novos epicentros da fome pelo mundo.
Cerca de dois terços das 155 milhões de pessoas que enfrentam níveis extremos de insegurança alimentar vivem em países com conflitos militares.
A Oxfam aponta que, apesar da pandemia, os gastos militares globais aumentaram no ano passado em 51 bilhões de dólares – seis vezes mais do que a ONU afirma ser necessário para acabar com a fome no mundo.
De acordo com o relatório, os efeitos econômicos da pandemia, combinados com o aquecimento global, causaram um aumento de 40% nos preços globais dos alimentos – o maior em mais de uma década.
"Os governos devem se concentrar no financiamento de programas urgentes de resposta à fome e proteção social para salvar vidas agora, em vez de fechar negócios no setor armamentista que só perpetuam os conflitos, a guerra e a fome", apelou a ONG. "Precisamos de mais ação para criar formas mais justas, resilientes e sustentáveis de alimentar o mundo."
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