O canal prepara o lançamento de um telejornal só com “boas notícias”. O programa convidará o telespectador a passear num país imaginário, onde não existe fome, pandemia, inflação ou desemprego.
A nova atração ainda não foi ao ar, mas a TV Brasil já opera como um veículo de propaganda do bolsonarismo. Até o Sem Censura, herança da antiga TVE, foi rebaixado à categoria de programa chapa-branca. Deixou de promover debates para amplificar as vozes do regime.
Na segunda-feira, o canal promoveu mais um espetáculo de governismo. Anunciou uma “entrevista exclusiva” com Bolsonaro, mas transmitiu uma peça de campanha paga com dinheiro dos impostos.
Se havia alguma dúvida sobre o programa, ela desapareceu logo na segunda “pergunta”. A apresentadora exaltou as viagens do presidente e emendou: “Eu queria que o senhor falasse um pouco desse contato direto com a população...”.
Bolsonaro teve 35 minutos para fazer proselitismo em rede nacional. Prometeu aumentar o Bolsa Família, asfaltar estradas, distribuir terras e levar internet aos pobres. Ele também usou o palanque eletrônico para mentir sobre a Covid. “A vacina tem dado mostras de que ela não te protege”, disse. Todos os imunizantes aplicados no país foram aprovados pela Anvisa, que atestou sua segurança e eficácia.
Em outra passagem, o presidente voltou a destilar preconceito contra povos indígenas. “Tem índio que quando você conversa ele já está tão evoluído quanto um de nós”, afirmou. Os índios não foram procurados para se defender da comparação.
Numa frase, Bolsonaro escancarou que vê o canal público como instrumento de promoção pessoal: “Eu podia falar todo dia aqui”. No fim da “entrevista”, foi encorajado a deixar “um recado para o pessoal da Amazônia”. Falou sem interrupções durante 14 minutos, uma eternidade para os padrões televisivos.
O capitão ficou tão à vontade que convidou os telespectadores para sua próxima “motociata”. Se assistisse à TV Brasil, o camarada Kim Jong-un morreria de inveja.
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