Nicolelis demonstra preocupação com o agravamento do colapso funerário, se não forem estabelecidas restrições de trânsito não essencial em aeroportos e estradas, o que poderia fazer parte de um lockdown nacional. “Diante desse cenário, o futuro que nos espera pode ser ainda mais dantesco, uma vez que não existe, por parte do governo federal, nenhuma iniciativa crível de combate real à pandemia.” Ele acredita que o Brasil está se aproximando rapidamente de um “ponto de não retorno”.
Ao mesmo tempo que Nicolelis fazia essas advertências, o ministro da Saúde dizia que “a ordem é evitar lockdown”. No pior momento da epidemia, Queiroga afirma que o país precisa fazer seu “dever de casa” e seguir recomendações de prevenção à Covid-19, como uso de máscaras e distanciamento, contanto que “deixe as medidas extremas para outro caso”. No domingo, a repórter Aline Ribeiro revelou no GLOBO que a situação precária dos hospitais está levando os profissionais de saúde, sem poder parar, ao limite da exaustão. Antes da pandemia, cada médico intensivista era responsável por dez pacientes em média. Agora, cada profissional cuida de 25 doentes.
São histórias de cortar o coração, como a do médico que dispõe de uma vaga para 200 candidatos e vai ficar o resto da vida com o sentimento de culpa de ter, para salvar uma vida, destinado 199 à morte. É irracional, evidentemente, mas que sentimento é racional?
O novo ministro da Saúde tem um discurso mais sofisticado, jamais revelaria publicamente, como o antecessor, que naquela pasta “um manda, e outro obedece”. Não precisa cometer essa indiscrição, está implícito quem determina se e quando serão adotadas as “medidas extremas”. Queiroga sabe do que o capitão gosta e do que não gosta — e ai de quem, no governo, ousa contrariá-lo. Pode preparar a frigideira.
Uma ironia do acaso simboliza a disposição da pandemia de avançar indiscriminadamente, sem encontrar resistência. Apenas um exemplo: ela invadiu até mesmo o palácio onde reina a negação à doença. O Planalto registrou 460 casos de coronavírus entre os servidores. A taxa de infecção em órgãos vinculados à Presidência é de 13%, mais que o dobro da média brasileira. Êta gripezinha danada, talquei?!
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