A nomeação por Richard Nixon de um notório medíocre para a Suprema Corte americana foi defendida com o argumento de que a mediocridade também precisava ser representada num governo. Presumivelmente por modéstia, Nixon não se escalou entre os medíocres representativos. Poderia ter se autodefinido como um exemplo extremo do que uma democracia tem de admirável, a oportunidade, pelo menos teórica, que oferece a qualquer um de chegar à Presidência da República. É verdade que o mesmo exemplo serve para o que uma democracia tem de mais perigoso, a oportunidade que oferece a qualquer um — mesmo um Nixon, um Trump ou, meu Deus, um Bolsonaro & Filhos — de chegar à Presidência da República. Faça um teste. Se pergunte o que você prefere, o velho ideal ciceroniano de uma casta preparada para o poder, à prova de qualquer medíocre e com o direito divino de governar, mas dada a injustiças e calhordices como toda aristocracia, ou o ideal democrático da igualdade de oportunidades, pelo menos teórica, com o risco de eleger qualquer um.
O mesmo Nixon, noutro contexto, falando sobre a economia americana na sua época, soltou uma frase surpreendente: “Somos todos keynesianos, agora”. A era Nixon, que terminou com sua renúncia depois do escândalo Watergate, não teve nada a ver com Keynes, que defendia a interferência do Estado na economia e pregava a responsabilização social da política financeira internacional desde o fim da Segunda Guerra Mundial — o que leva a crer que Nixon leu os livros errados, ou se preparava para aderir a Keynes quando foi derrubado. Hoje a era Nixon é vista como uma espécie de antessala da era cuja frase-tema foi dita não por um economista ou um político, mas pelo Michael Douglas no papel de Gordon Gekko, a fera de Wall Street no filme do mesmo nome, do Oliver Stone. A frase é: “Greed is good” (Ganância é bom). É a ganância desenfreada que move a era dos trilionários e gerentes de fundos sem escrúpulos e agita o sono sem descanso de Keynes.
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