Assim começa o filme "A História de Louis Pasteur", de 1936, do subestimado William Dieterle, que rendeu a Paul Muni o Oscar pela interpretação de Pasteur. Embora fosse um filme da Warner, especializada em gângsteres, as armas em cena eram os microscópios, não as metralhadoras. A história mostra Pasteur sofrendo dura oposição dos médicos, para quem sua teoria dos micróbios como causa das doenças era um delírio. Eles fazem o governo proibi-lo de pesquisar e só vão lhe dar razão 20 anos depois, quando a França já estava quase dizimada.
Na vida real, Pasteur não foi assim tão perseguido, nem descobriu sozinho a cura para as infecções. Mas essa história antecipa a vivida 160 anos depois por um médico chinês: o dr. Li Wenliang, o primeiro a alertar, a 30 de dezembro último, sobre a iminência de uma epidemia. Wenliang descobrira sete pacientes com sintomas de um novo coronavírus no hospital onde trabalhava, em Wuhan.
As autoridades policiais e médicas da China o acusaram de "propagar boatos" e "perturbar a ordem social" e o obrigaram a se desmentir. Mas, a 12 de janeiro, o próprio Wenliang caiu infectado. Internou-se e morreu três semanas depois. Se seu alerta tivesse sido ouvido no começo, talvez milhares de vidas ainda pudessem ser poupadas.
Hoje, o dr. Li Wenliang é um herói na China. Já os bolsonaros locais --e eles são os mesmos em toda parte--, que negaram a gravidade da denúncia, serão esquecidos, para lástima dos tribunais da humanidade.
Ruy Castro
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