Apesar disso, duas notoriedades, Rodrigo Maia e Arminio Fraga, não apenas remeteram atenções ao futuro, como lhe deram peso insuperável. Nem por isso houve sinais de que fossem ouvidos, claro.
Em seu penúltimo artigo na Folha, original na forma e espantoso no conteúdo, Fraga expôs as urgências sociais no que pareceu sua primeira abertura para o tema. Uma transformação extrema. Ex-colaborador de George Soros, o bilionário visto como maior faro mundial para o lucro de especulação, com ele Fraga afinou o olfato e veio a ser, aqui, um expoente na aplicação de capitais. Uma estrela do tal mercado, pois.
Fraga rumou para o futuro em palestra como ex-presidente do Banco Central. Ainda sobre a desigualdade e, agora sem surpreender, o gasto governamental com Previdência e funcionalismo, revelou seu apocalipse particular: “O Brasil precisa mexer nessas contas, ou em cinco ou dez anos teremos uma revolução”.
No meio em que Fraga vive, golpe de Estado, com prisões, cassações, torturas e assassinatos, é chamado de revolução. Golpe elitista e produtor intencional de desigualdade, não seria o tipo de revolução antevisto pelo Fraga contrário à desigualdade. Qual seria?
Rodrigo Maia é o mais bem-sucedido entre os políticos projetados desde a crise do governo Dilma. Visto como fonte de ponderações necessárias, com frequência usa de franquezas inesperadas e, em geral, oportunas. Como complemento à crítica a Abraham Weintraub, ministro da Educação, pelo “prejuízo a muitas gerações”, Maia não se escondeu: “Nosso país não tem futuro, né? Não tem futuro”.
Entre a revolução antevista, mesmo descontado o prazo exíguo, e o futuro que não se vê, emerge a contribuição de Jair Bolsonaro e dos seus sustentáculos — sobre todos, os seus militares — para que os dois extremos não sejam negáveis. Em 13 meses de governo, não houve uma só medida favorável aos oprimidos pelas desigualdades, sejam as sociais, as econômicas, as étnicas. Isso se faz sobre uma insatisfação e sob dificuldades nacionais que, por vários indícios, já eram inquietantes.
Ao fechar 2019, 66% das famílias brasileiras, dois terços delas, estavam endividadas. Um quarto delas, com as dívidas em atraso. Duplo recorde. Apesar do 13º e dos saques no FGTS.
No começo deste ano, ao menos 11,6 milhões procuravam emprego: no último ano do primeiro mandato de Dilma, 2014, eram 6,6 milhões.
A média dos que procuravam emprego no primeiro ano de Bolsonaro chegou a 12,5 milhões, 87,7% a mais do que em 2014. E A média mensal de concessão do Bolsa Família, quando maior é a necessidade, caiu 5.600, com meio milhão em uma fila de espera que passou a andar apenas 1% ao mês.
A inflação de 2019, dizem, foi de 4,31% com Guedes e Bolsonaro, mas a alimentação básica viu a carne encarecer 32%, 13% a mais nos cereais e nos legumes, 14% nas aves e ovos, 10% no açúcar, e assim por diante, ou para cima. E o governo quer retirar o subsídio que reduz o preço da cesta básica.
A reforma da Previdência, ninguém de boa-fé duvida mais, prejudicou quem trabalha e não trouxe contribuição substancial ao problema.
O pacote de emendas constitucionais proposto pelo governo é antissocial, contra os estados e municípios (a federação) e tem numerosas incompatibilidades com a Constituição. Nele, nada é favorável às classes desassistidas e muito as agrava.
Cada ideia de Paulo Guedes para a economia é contrária ao assalariado, ao aposentado, ao carente. Cada ideia de alguém no governo é sempre contrária aos indígenas, à demarcação de suas áreas e de reservas nacionais, é contrária ao ambiente natural e favorável ao garimpo e aos desmatadores.
Em 13 meses de governo, nenhuma medida ou ideia contra as desigualdades, nada pela retomada real da atividade industrial, do emprego, da habitação, da segurança. E o futuro? Pergunte a Arminio Fraga e a Rodrigo Maia.
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