quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Na América Latina, dengue preocupa mais que coronavírus

O surto de coronavírus originado na China está atraindo a atenção mundial, e a pergunta que todos fazem é se (e quando) ele chegará à América Latina. Embora o vírus 2019-nCoV tenha surgido na cidade chinesa de Wuhan, a milhares de quilômetros do continente, já houve alertas no México, na Colômbia e na Argentina, todos descartados, e ainda há vários casos em observação no Brasil.

Até esta terça-feira, a taxa de letalidade do coronavírus, com 20.438 casos de infecção e 425 mortes na China continental, era de 2,08%. Houve até o momento apenas duas mortes fora da China continental: um nas Filipinas e outro em Hong Kong.

A título de comparação, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até janeiro de 2020 o vírus ebola tinha uma taxa de mortalidade entre 50% e 88%. Em 2009 e 2010, o vírus da gripe H1N1 teve 0,02% de casos fatais. Em 2012, o coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers) registrou 2.494 casos e 34,4% de mortalidade. Em 2013, a gripe aviária (H7N9) registrou 1.568 casos e 39,3% de mortes.


Entretanto, o avanço do coronavírus na Ásia é tão rápido que muitos especulam que ele poderá chegar em breve à América Latina. Diante disso, enquanto o coronavírus é apenas um grande medo, várias outras doenças infecciosas matam todos os dias na região, e há décadas. Na América Latina, a tuberculose registrou 280 mil casos por ano no século 21. A malária está regressando a algumas áreas tropicais, com a Venezuela liderando em 2017, segundo a OMS.

A doença que mais preocupa atualmente na América Latina é a dengue, que atingiu sua máxima histórica e avançou exponencialmente nas últimas décadas. Hoje, é a doença viral transmitida por mosquitos que se espalha mais rapidamente pelo planeta. A ONU e estudos científicos já alertaram para os efeitos do aquecimento global sobre ela, já que o fenômeno leva a uma maior sobrevivência e a uma proliferação mais rápida do mosquito Aedes aegypti, que transmite a dengue.

Entre 2019 e 2020, os casos confirmados de dengue na América Latina e no Caribe chegaram a 3.095.821. Houve 1.530 mortes, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). A taxa letal dessa doença foi de 0,049% em 2019. Esses números são os mais altos desde 1980, quando 65.523 casos foram relatados em todo o continente. O segundo ano com o maior número de casos de dengue foi 2015, com 2.415.693.

De acordo com o diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da Opas, Marcos Espinal, "a região está passando por um novo período da epidemia de dengue com um aumento notável de casos". Em janeiro de 2020, mais de 125 mil pessoas tiveram dengue, e pelo menos 27 morreram em toda a região.

Em 2019, o México registrou 191 mortes por dengue, com 41.505 casos confirmados. Na América Central, houve 295 casos fatais, com o maior foco da epidemia em Honduras, onde 180 pessoas morreram.

No final de janeiro, o ministro da Saúde hondurenho, Roberto Cosenza, disse em entrevista à agência de notícias Efe que seu país poderia enfrentar uma epidemia de dengue "maior" que a de 2019. A progressão da dengue no país é alarmante, com uma média de mil casos suspeitos por semana, 80 dos quais são do tipo hemorrágica.

A incidência da dengue em crianças menores de 15 anos na América Central também é motivo de preocupação. Na Guatemala, por exemplo, 52% dos casos graves de dengue são registrados nessa faixa etária, um número superado por Honduras (66%).

No Cone Sul, a dengue atinge especialmente o Brasil, com 1.544.987 casos em 2019, em comparação com os 265.934 casos em 2018: um aumento de 488%. Foi também ali que ocorreu o maior número de mortes: 782, de acordo com dados de 2019 do Ministério da Saúde brasileiro.

Na Colômbia, 127.553 casos de dengue e 87 mortes foram registrados no ano passado.

Até agora, em 2020, Paraguai e Honduras estão liderando os surtos de dengue. Honduras já registrou mais de 3.200 casos.

No início deste ano, mais de 20 mil pessoas foram afetadas pela doença no Paraguai. O caso do presidente paraguaio, Maro Abdo Benítez, que foi diagnosticado com o vírus, ganhou as manchetes dos jornais.

Em 29 de janeiro, a capital do país, Assunção, declarou emergência ambiental e sanitária de 90 dias como medida contra a epidemia de dengue. Segundo o Gabinete de Vigilância Sanitária, houve apenas quatro mortes confirmadas por dengue, mas há outras 23 que ainda estão sendo analisadas.

A Bolívia contou 16.193 casos em 2019 e pelo menos 23 mortes. O país começou 2020, segundo o Ministério da Saúde, com 2.143 infecções, além de 700 mil casos aguardando confirmação laboratorial. Argentina, Bolívia e Paraguai impuseram controles fronteiriços mais rígidos, juntamente com o Brasil.

A dengue representa um grande desafio para a América Latina. O vírus é transmitido por mosquitos, por isso as medidas sanitárias mais urgentes são as campanhas de conscientização entre a população dos diferentes países, para que todos os lugares onde esses insetos se reproduzem sejam eliminados, especialmente aqueles dentro e próximos das casas.

A Opas enfatiza que a dengue é "um problema de saneamento doméstico e comunitário" e que a maneira mais eficaz de combatê-la é se livrar de todo tipo de objeto e recipiente "que possa acumular água, como tambores, pneus usados, latas, garrafas e vasos".

A dengue afeta bebês, crianças pequenas e adultos. Os sintomas mais frequentes são febre alta (40 ºC), dor de cabeça muito intensa, dor atrás dos olhos, nas articulações e nos músculos. Se esses sintomas ocorrerem – bem como dores abdominais fortes, vômito persistente, respiração rápida, hemorragia das mucosas, vômito e fadiga –, é necessário consultar um médico com urgência.

A dengue grave (também chamada de hemorrágica) é fatal, pois pode levar à acumulação de líquidos, hemorragias graves e falência de órgãos. Embora não exista um tratamento específico para essa doença, o diagnóstico precoce, cuidados médicos e aconselhamento adequado ao paciente podem salvar vidas.
Deutsche Welle

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