sábado, 7 de dezembro de 2019

Parlamentares alemães cobram de Bolsonaro proteção a líder indígena ameaçada

Um grupo de deputados federais da Alemanha pediu nesta sexta-feira que o governo brasileiro garanta a proteção da líder indígena Alessandra Korap, do povo munduruku, que vem recebendo ameaças de morte e teve sua casa invadida no fim de novembro, em Santarém, no Pará.

Em uma carta endereçada ao presidente Jair Bolsonaro e entregue à embaixada do Brasil em Berlim, o grupo formado por três deputados do partido Die Linke (A Esquerda) ainda pediu para que as autoridades brasileiras instruam os responsáveis pela investigação da invasão da casa de Korap a iniciar uma apuração aprofundada para "assegurar que os líderes materiais e intelectuais sejam responsabilizados conforme a lei".

Assinaram o documento os deputados Eva-Maria Schreiber, Heike Hänsel e Alexander Ulrich. O último também é membro do grupo parlamentar Brasil-Alemanha no Budestag (Câmara baixa do Parlamento alemão).

Na mesma carta, os deputados ainda manifestaram "preocupação com a situação dos defensores dos direitos humanos no Brasil" e pediram que o governo "faça da proteção destes líderes legítimos uma prioridade" e que "faça tudo o que estiver ao seu alcance para facilitar o trabalho das organizações da sociedade civil".


A invasão da casa de Korap, de 35 anos e que atua como uma das lideranças do povo munduruku, ocorreu dez dias depois de ela viajar a Brasília com outros indígenas para denunciar garimpos ilegais, a ação de madeireiras e cobrar a demarcação de terras indígenas. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, um vídeo de Korap discursando na Universidade Nacional de Brasília (UnB) circulou em grupos de Whatsapp que reúnem garimpeiros. Em abril, ela também compareceu a uma audiência na Câmara Federal para cobrar mais ações em defesa dos indígenas.

De acordo a líder indígena, os invasores arrombaram a porta quando a casa estava vazia e levaram uma mochila com diversos documentos e outros materiais impressos, um celular e o cartão de memória de uma máquina fotográfica. A máquina, no entanto, não foi levada, o que levantou a suspeita de que os invasores estavam atrás de informações sobre a indígena.

Korap se mudou para Santarém no início do ano, para cursar direito em uma universidade local e, segundo ela, "buscar conhecimento pelo direito das terras indígenas".

"Isso que aconteceu na minha casa foi um aviso. Levaram documentos. Atas, recibos, da minha viagem a Brasília. Levar cartão de memória, mas não levar a câmera. Por que eles querem meus pen drives? Meus papeis? Minha agenda. Alguma coisa está errada aí", disse Korap à DW Brasil. Ela também descreveu uma série de ameaças após sua viagem a Brasília, em novembro.

“Eu tô praticamente escondida, com medo de falar. Mas vou continuar lutando para defender aquele rio, para defender as pessoas. “Nós estamos morrendo aos poucos. Nossa floresta, nosso rio estão morrendo aos poucos. A vida da terra está morrendo aos poucos”, disse.

Ela também comentou a iniciativa dos parlamentares alemães. “Parlamentares europeus denunciem! Vejam o que o presidente está fazendo com nosso Brasil. Estão matando as populações tradicionais. A gente está morrendo. Hoje estou falando, mas amanhã eu não sei se vou estar viva.”

Procurada pela DW Brasil para comentar a carta enviada pelos parlamentares alemães, a embaixada do Brasil em Berlim afirmou que encaminhou o documento ao seu "alto destinatário [presidente Bolsonaro] e às autoridades competentes no Brasil".

"As denúncias contidas na comunicação suscitam preocupação. A Embaixada recorda que o Brasil dispõe de ampla e reconhecida legislação sobre Direitos Humanos e que denúncias dessa natureza são averiguadas à luz desse marco legal", informou a embaixada.

O povo munduruku é formado por pouco mais de 11 mil indígenas distribuídos em diferentes terras no Pará, Amazonas e Mato Grosso. Pouco mais da metade deles vive na Terra Indígena Munduruku, no sudoeste do Pará. A área vem sendo duramente afetada pela mineração ilegal. Em setembro, o grupo Greenpeace divulgou um vídeo é possível ver enormes crateras na reserva e rios tomados por rejeitos de mineração clandestina que se estendem por dezenas de quilômetros.

De acordo com o Greenpeace, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostram que em dois anos a destruição da floresta na Terra Indígena Munduruku aumentou quase seis vezes. Segundo o grupo, de janeiro a julho de 2017, cerca de 2,64 km² de floresta foram desmatados. No mesmo período em 2018, o número subiu para 4,84 km². E, neste ano, janeiro a julho, o número alcançou 15,46 km².

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