terça-feira, 5 de novembro de 2019

Ganância

Agora que novembro está correndo, já é possível fazer uma análise prévia de 2019. Esotéricos e espiritualistas em geral tinham razão em suas profecias catastróficas. No Brasil o que não faltou foi desastre na natureza. Pior do que vivemos neste ano só mesmo o fim do mundo do Apocalipse de São João.

Em algumas situações, como no caso do rompimento de uma barragem da mineradora Vale, em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), eu cheguei a pensar que o anjo do sexto livro havia tocado a trombeta.O mar de lama avançando como um tsunami, que a televisão mostrou, parecia praga bíblica.

Era uma corrente muito rápida e violenta de barro viscoso que se espalhava invadindo campos e cidades, engolindo gente, bicho, cobrindo árvores, fazendo casas desaparecer do mapa, culturas, sentimentos, dignidade. Por onde aquilo passava, tudo era destruído.

Assim como ficamos marcados por aquelas cenas, outra imagem trágica ficou retida em nossa lembrança: a das labaredas de fogo consumindo a maior floresta tropical do mundo. Era o mês de agosto.


As chamas torravam os ecossistemas e parte da floresta amazônica foi devastada pelas queimadas. O Governo Federal, que despreza a pauta ambiental, só veio se interessar pelo problema por causa das pressões internacionais.

É pouco? Em meio a tudo isso, o governo foi permitindo o uso de agrotóxicos nos alimentos. Em onze meses de mandato, já liberou 382 substâncias venenosas. O Brasil, hoje, ostenta o título de maior consumidor de pesticidas do mundo em números absolutos.

Em bom português, há uma liberação de substâncias venenosas que vão parar nas nossas mesas. Os compostos químicos, que são capazes de mexer em nosso organismo e causar danos irreversíveis, acompanham os produtos agrícolas adquiridos em feiras e supermercados. Pior do que morrer de uma vez é intoxicar-se aos poucos?

Quem ainda tinha esperança de dias melhores, não esperava que manchas de óleo chegariam pelo mar, contaminando o litoral nordestino. A população arregaçou as mangas e recolheu toneladas do resíduo, colocando literalmente as mãos no piche. Centenas de pescadores ficaram sem o ganha-pão.

Talvez as previsões não tenham ocorrido ao pé da letra, mas isso é uma questão de interpretação. Os esotéricos alertavam que os planetas estão em alinhamento, criando um ambiente de transformações na Terra, e que era necessário se precaver.

Os presságios foram reforçados com a divulgação de que havia também previsões de Chico Xavier. O grande médium brasileiro, que não fazia profecias, se notabilizou pela facilidade de comunicação com o mundo espiritual. Mas ele teria afirmado que a humanidade está cumprindo em 2019 o final de um período de provação que durou 50 anos.

Estaríamos, portanto, vivendo uma data limite. E isso poderia resultar em eventos de destruição. Se as previsões procedem ou não, é uma questão de crença, e fé não se discute. Uma coisa é certa: o pecado da ganância regeu as tragédias de 2019. Em cada ocorrência, está claro que tem dinheiro envolvido.

O importante agora é a consciência de que precisamos cuidar deste mundo porque ele ainda não acabou. Tem a ver com o respeito à natureza e ao meio ambiente, assim como às pessoas e a todas as formas de vida que nele habitam.

As lições que as tragédias (qualquer tragédia) deixam em seu rastro é que para vivermos em harmonia e empatia precisamos de gente boa e do bem, de energias positivas e de sentimentos milagrosos como tolerância, misericórdia e amor. E isso não depende de fé ou de credo religioso.

Cícero Belmar

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