sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Tosco, a palavra do ano

No ano passado a vencedora foi “fake” e agora desponta a mais forte candidata a palavra mais popular de 2019, que fez tanto sucesso porque define com precisão uma época do país marcada por ela. A linguagem é tosca, os debates são toscos, o presidente é a sua mais completa tradução.


“Não lapidado: pedra tosca. Que conserva características originais, sem interferências exteriores. Desenvolvido ou realizado sem cuidado ou refinamento; grosseiro, malfeito. Definido pelo excesso de indelicadeza, de grosseria; bronco. Desprovido de bons costumes, sem refinamento cultural; inculto: pessoa tosca”, diz o dicionário.

Mas a palavra do ano não define só a ele ou outras personalidades de seu circulo íntimo, se espalha pelo seu ministério, pelos seus fanáticos, pelas mentiras bizarras e desmentidos bisonhos. Tosca foi a invasão dos celulares de autoridades, como ensinou o hacker Walter Delgatti Neto. É facílimo, está ao alcance de qualquer adolescente. Porque o sistema de proteção de dados das operadoras é tosco.

O debate político não poderia ser mais tosco e rasteiro. Bolsonaro diz que quer acabar com o “viés ideológico” no governo, mas quer só trocá-lo pelo seu. Toscos têm profundo desprezo pela inteligência alheia.

O tosco mostra-se imune a influências externas, por melhores que sejam, prefere manter a ignorância original, que se torna um estilo com que muita gente se identifica, como um sinal dos tempos.

É diferente da burrice, como incapacidade de compreensão e raciocínio, é uma escolha pela intolerância e o radicalismo de ideias e atitudes de grupos formados no autoritarismo, no machismo, na homofobia e no racismo.

Os toscos odeiam a ciência e o refinamento porque lhes revelam sua ignorância e pequenez, cultivam a incultura como autenticidade e desprezam as artes porque não as conhecem. Confundem autoridade com autoritarismo grosseiro.

As guerras culturais em curso não são ideológicas nem religiosas ou racionais, são a vingança dos toscos contra a cultura e a civilização.
Nelson Motta

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