A trajetória poderia ser um grande salto para quem há pouco menos de um ano era um deputado do baixo clero. Mesmo assim, nenhum desses feitos foi capaz de despertar no chefe do Executivo o mesmo entusiasmo que tem ao desempenhar seu papel favorito, de "showman".
Buscando difundir sua narrativa, nas últimas semanas, Bolsonaro passou a se dividir entre as lives nas redes sociais e a porta do Palácio da Alvorada, de onde tem falado pelas manhãs. Como um apresentador de programa de auditório, aguarda a plateia antes de aparecer. Na ausência de apoiadores do lado de fora, o comboio passa direto. As interações com a imprensa no local garantem ao presidente chamadas nos principais veículos. Como o ofício de showman não é compatível com o de dirigente de um país, suas declarações ofuscam o governo.
Para proteger sua narrativa, o mandatário pede que os auxiliares filmem tudo. Antes de falar com jornalistas, para no cercadinho dos fãs, convidados a vigiar o trabalho dos profissionais. Nas entrevistas, que duram 20 minutos, Bolsonaro fala sobre economia, política e violência e quase sempre termina na metáfora de casamentos. Quando uma pergunta o incomoda, encerra a entrevista com grosseria ou devolve ao repórter uma questão provocadora. Raramente se alonga quando confrontado com temas econômicos. Na polêmica, se solta.
O aumento dos stand-ups presidenciais coincide com a ida de generais do Exército para as coxias. Augusto Heleno (GSI) sumiu das lives. O porta-voz, Otávio Rêgo Barros, teve briefings diários esvaziados. Talvez estejam reunidos no teatro de operações do Planalto, de onde esperam Bolsonaro retomar a cadeira de comando.
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