1 — É nepotismo, como avisou o ministro Marco Aurélio Mello, do STF. Há advogados que dizem haver brechas, porque nepotismo seria indicar para cargos em comissão e não para vagas políticas. É uma visão superficial. Favorecer um filho viola o princípio da impessoalidade. Discutir se é o cargo é político ou não é uma minúcia.
A linha adotada agora é ainda pior. A qualificação de diplomata é específica. Para chegar a assumir uma embaixada, o topo da carreira, o diplomata que sai do Instituto Rio Branco tem que atuar como 3º secretário, 2º secretário. Depois de 1º secretário, é conselheiro, ministro-conselheiro, embaixador. Nesse ponto da carreira, o diplomata começa a chefiar embaixadas menos complexas. Há inúmeras sutilezas, leis internacionais, convenções e códigos que precisam ser seguidos.
3 — A embaixada americana é o posto mais importante na estrutura do Itamaraty. O fato de Eduardo conhecer Donald Trump não quer dizer nada. O poder é transitório em democracias. O embaixador representa o país. Uma decisão errada afeta pessoas, setores e o Brasil. Trump não vai abandonar seus interesses porque tem uma proximidade pessoal com o embaixador brasileiro. É um trunfo que não serve para muita coisa.
4 —Algo parecido só aconteceu na Arábia Saudita, como lembrou o jornalista Guga Chacra. O príncipe Mohammed bin Salman, que será o rei e está envolvido na morte do jornalista Jamal Khashoggi, indicou o irmão Khalid para a embaixada americana. Isso é coisa de país que não tem democracia.
5 — Eduardo se ligou politicamente à ultradireita internacional. É um representante dela. Isso restringe a capacidade de circulação dele na sociedade americana. A missão do embaixador não está restrita ao governo. Ele tem que frequentar os diferentes círculos do país. Ouvir, entender e reportar ao Brasil as tendências do país. A ultradireita internacional é um gueto. Um diplomata que ficar restrito não vai representar bem o Brasil.
6 —Diplomatas explicam que só se anuncia a indicação de um embaixador após o chamado “agrément”. Primeiro é preciso consultar o país sobre a intenção de indicar o embaixador. Se o nome for aceito, aí é que se informa o procedimento ao Senado.
7 —A intenção de Bolsonaro é mais uma etapa do desmonte do Itamaraty nesse governo. Uma das nossas mais competentes burocracias agora é comandada por um diplomata que está engajado numa cruzada ideológica, ao invés de representar o país como um todo.
A indicação do filho do presidente é um equívoco enorme. Como repórter, cobri o Itamaraty em uma época de ouro da instituição. A diplomacia é complexa e exige qualificações específicas. Se confirmada, que o Senado pense no país. Esse governo é transitório. É preciso colocar quem tem qualificação para representar o Brasil no posto diplomático mais importante da diplomacia brasileira.
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