Todos lembram que a confiança anterior em Lula era impressionante. Pela primeira vez em um país importante, chegava à chefia do governo um operário, democraticamente eleito. O único precedente era Lech Walesa na Polônia, mas sua eleição foi apoiada pelos Estados Unidos e pelo Vaticano, numa outra situação, e Walesa era um trabalhador escolarizado, diferente de Lula, que chegou ao poder sem jamais ter lido um livro.
A decepção com Lula e o PT hoje é diretamente proporcional à confiança de outrora, dividindo o país entre os que são contra ou a favor dos petistas. Por isso, ainda há tanta paciência e benevolência em relação aos múltiplos erros de Bolsonaro, que representa o antiPT.
Como se sabe, a crise econômica foi causada pelos governos anteriores, de Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer. Diante desse fato, Bolsonaro demonstra não se sentir responsável pela recuperação do país. Parece viver em outro mundo, gosta de fazer piadas, está adorando o Planalto-Alvorada, mas não se preocupa com o governo e só pensa em se reeleger.
Sob a alegação de que nada entende de economia, Bolsonaro delegou poderes ao liberalista Paulo Guedes. É uma postura cômoda, mas desligada da realidade, porque revela uma espécie de autismo administrativo.
Se o mercado não reagir por si só e Guedes der errado, o presidente vai demiti-lo sem o menor remorso e colocará no lugar outro economista, como fez com Joaquim Levy no BNDES, ao forçar a demissão dele para substituí-lo por um playboy amigo dos filhos, conhecido por comemorar aniversário ruidosamente, digamos assim.
A estratégia de Guedes não vai dar certo. Jamais trabalhou em governo, não leva o menor jeito e jogou todas as fichas na reforma da Previdência, uma doce ilusão.
Nesta sexta-feira, pela primeira vez um destacado membro da equipe econômica – o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida – veio a público avisar que a reforma da Previdência não resolverá a crise econômica, fato que desde o início do governo temos repisado aqui na TI.
Em artigo na Folha, Mansueto disse que “o Brasil perdeu a capacidade de investimento”. Recomendou reforma tributária, abertura comercial e leilões de concessão nos projetos de infraestrutura. Em tradução simultânea, maior abertura comercial significa prosseguir a desindustrialização e permitir a entrada de empreiteiras estrangeiras para fazer as obras de infra-estrutura. Ou seja, aumentar a desnacionalização da economia, uma solução genial – ou bestial, como dizem nossos irmãos lusitanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário