É uma base do Exército na fronteira pantanosa, de águas turvas, pouco peixe e floresta densa, dominada por grupos narcoguerrilheiros estrangeiros e facções nacionais do crime. Em torno do quartel vivem 42 mil pessoas, quase 80% indígenas na miséria.
Nessa babel de quatro idiomas (português, nheengatu, tukano e baniwa) e dezenas de dialetos, o silêncio comunitário ajuda a banalizar a prostituição de crianças indígenas.
Alguns políticos e comerciantes se habituaram a comprar a virgindade de crianças índias, com 10 a 13 anos de idade. É coisa antiga, bem conhecida na cidade, mas quase ninguém se preocupa — registrou o promotor Júlio Araújo em processo aberto a partir dos relatos publicados pelas repórteres Kátia Brasil e Elaíze Farias.
Em setembro, um dos comerciantes mais ricos e influentes, o ex-vereador Manuel Carneiro Pinto, foi condenado por prostituição infantil. Ele e os irmãos Marcelo e Arimatéia receberam penas, somadas, de 142 anos de prisão. Em abril, o comerciante Aelson da Silva foi punido com 67 anos de cárcere.
Das suas vítimas, oito já completaram 25 anos. O juiz Flávio de Freitas dimensionou nas sentenças a devastação social dos Tariana, Uanana, Tucano e Baré, humilhados.
Todos os condenados estão soltos, à espera de julgamento dos recursos. Podem continuar nas ruas, se o Supremo mudar as regras sobre prisão em segunda instância.
O silêncio comunitário fomenta a prostituição infantil. A sensação de impunidade reverbera nas esquinas da cidade, escreveu o juiz.
A Câmara de São Gabriel da Cachoeira confirma: dias atrás homenageou Manuel Carneiro Pinto, condenado a 32 anos de prisão. A Comissão Municipal da Mulher deu-lhe o título de “Guardião da Fronteira da Cabeça do Cachorro”.
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