Um dependente químico é alguém que não consegue ficar certo tempo sem consumir sua droga, seja ela álcool, cocaína, crack, inalante, maconha ou o que for. Esse tempo varia com o dependente —um dia, duas horas, 30 minutos. Mas qualquer pessoa que precise usar tal produto para não sentir os efeitos físicos e psicológicos de sua ausência será dependente. Isso o levará a negligenciar a família e os amigos, tornar-se errático e inconfiável no trabalho e, em algum tempo, apresentar sintomas ligados à intoxicação.
É uma escalada. Seguem-se, pela ordem, o desemprego, a falência, a depressão, a subnutrição, outras doenças, a loucura e a morte.
Os mesmos sintomas assolam hoje um novo tipo de dependente: o que não consegue passar certo tempo desconectado do smartphone, tablet, notebook ou computador. É o dependente digital. O aparelho o acompanha, ligado, durante suas refeições em casa, com a família, ou na rua, a negócios ou a prazer; na conversa com os amigos; no cinema ou no teatro e, inevitavelmente, no trabalho.
Como na dependência química, chega-se a um estágio em que tudo que não diga respeito à droga se torna intolerável, como o casamento, o emprego, atender a compromissos, pagar as contas e até tomar banho. A droga se apossa. Por ela, o dependente abole o mundo ao redor.
Todo mundo hoje sabe de alguém que, tendo seu celular quebrado, perdido ou roubado, “passou mal” por ficar sem ele. Chama-se a isto síndrome de abstinência. É o que acontece com o dependente químico —a simples ideia de não ter a droga à mão para a próxima dose é aterrorizante.
Já há no Rio e em São Paulo institutos de “desintoxicação digital”. Clientes não faltarão: segundo pesquisas, o brasileiro fica conectado, em média, nove horas e 14 minutos por dia. É o terceiro país do mundo nessa estatística, atrás apenas da Tailândia e das Filipinas —por enquanto.
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