Acho que fui sempre uma lutadora contra os preconceitos: sou de um tempo em que, na Faculdade de Direito da UFMG, brigando para ter acesso a um elevador que subia e descia lotado, estendi os braços à frente de todos os homens e tive de responder a um colega provocador, que “sim, nós, mulheres, queremos direitos iguais... não deveres iguais!”: resposta polêmica de quem não só queria se ver respeitada, mas ainda queria ser bem tratada. Como chegamos a ser – como uma “concessão”, e não um direito, até muito tempo atrás.
Sou de um tempo em que, no PT, como candidata ao cargo de governador, em 1982, tive de me submeter a não dizer o que acreditava ser correto (direito ao aborto, direito de emancipação das mulheres e homossexuais, descriminalização do uso de drogas) –, tudo isso apenas para não ferir os escrúpulos de quem, militando pela Igreja Católica ou nos movimentos sociais e sindicais – extremamente atrasados em assuntos comportamentais –, ainda não permitia ao PT ter uma opção clara a respeito desses temas.
Agora, assim como os diferentes têm se manifestado contra os preconceitos que cercam suas vidas, preciso me manifestar contra certos usos estranhos de palavras que só agora são vistos.
Não é isso que eu quero. Ter poder significa mandar, dominar, tirar a liberdade de outrem, e eu não quero isso para minha vida, nem para a vida daqueles que amo. Eu amo, respeito e reconheço o direito de todos. “Nada do que é humano me é estranho”, gostava de dizer um filósofo barbudo, repetindo o poeta romano.
E por conta disso não quero amar, nem respeitar, nem reconhecer o direito de quem quer mandar, dominar ou tirar algo de mim ou de outrem. Sou diferente agora mais do que nunca, porque sou mulher e sou de outros tempos – tempos de reivindicações mais sensatas.
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