Prossigamos: ou o Estado determinaria que os professores também dominassem a Língua Brasileira de Sinais – tornando o tempo de aula um tormento, com o mestre tendo de se virar para manter a disciplina, fazendo uma exposição oral e, depois, aquela por gestos. É provável que os alunos que não fossem surdos aproveitassem a deixa para toda sorte de modos de escapar do tédio: usar o celular para mandar WhatsApp para os amigos, bilhetinhos para o garoto que atualmente é seu crush, ou bater um papinho com as (os) colegas mais chegadas (os), exibindo sua pulseirinha nova ou o tênis recém-comprado.
Ou isso aí, ou cada sala de aula teria de comportar dois professores, que, num jogral sucessivo, iriam se sucedendo ora na linguagem usual, ora na gestual. E a lentidão do processo certamente impediria a utilização de outros métodos didáticos, como a discussão em grupo, por exemplo.
Isso porque toda inclusão ou é inclusão, e os alunos surdos frequentam as mesmas salas de aula, ou são amontoados todos juntos, por séries, o que não seria inclusão, mas formação de verdadeiros guetos entre as pessoas com deficiência e os outros.
No recreio, só brincadeiras livres. E haveria rodinhas só de surdos...
Acontece que, na véspera mesma da prova do Enem, Sua Excelência processou cortes violentos no gasto social, sendo que só no item “Promoção e defesa dos direitos de pessoas com deficiências” tascou uma diminuição de 44,2% em relação ao Orçamento de 2017: passou de R$ 23,3 milhões para apenas R$ 13 milhões.
Aí só mesmo o próprio Temer fazendo a redação proposta para discorrer sobre o milagre que o Enem exigiu neste ano.
Ou estou enganada?
Sandra Starling
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