quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A República e os farsantes

A desmoralização do Estado democrático de Direito continua em marcha. Nas últimas semanas os três poderes da república protagonizaram momentos lamentáveis. O Executivo comprando votos na Câmara. Entregou cargos na máquina do Estado com o claro objetivo de favorecer negócios ilícitos aos apaniguados dos deputados, isso como se fosse algo absolutamente natural, um instrumento da democracia que teria vindo lá da Atenas de Péricles — é necessário certo cuidado nessa afirmação pois a maioria dos deputados pode imaginar que o ateniense era um pagodeiro. Concedeu a liberação de verbas orçamentárias para favorecer interesses pouco republicanos dos deputados nas suas bases. Grande parte dessas obras são inúteis: é dinheiro público jogado fora. Serve para favorecer empreiteiras e políticos, mais ainda quando nos aproximamos de uma nova eleição, que deve ser a mais cara da história.

No Congresso, nada indica que haverá uma moralização dos costumes. Eles não se corrigem. Sentem-se acima do bem e do mal. Têm plena confiança na impunidade — e não faltam exemplos. Para a elite não é aplicável o caput do artigo 5º da Constituição. Continuam legislando em causa própria. A maioria desconhece o que significa interesse público. Estão lá para enriquecer, e rápido.

O STF protagoniza em cada sessão embates de baixíssimo nível.

Lembra discussões de botequim pouco antes do momento da saideira.

O STF — ah, o STF… — protagoniza em cada sessão embates de baixíssimo nível. Lembra discussões de botequim pouco antes do fechamento, no momento da saideira. Nada contribui para o País, nada contribui para a Justiça. Por sinal, o que menos importa é a justiça. Fazem descaradamente política. E os autos dos processos? Doce ilusão. São meros pretextos para tecer considerações sobre Deus e sua obra. Um ministro ataca o outro. Se odeiam. Luminares do Direito? Não! São os modernos Pachecos, aquele do “imenso talento”, célebre personagem de Eça de Queirós imortalizado no livro “A correspondência de Fradique Mendes”.

E a vida segue. Parece um filme. E de terror. Nós, cidadãos, somos apenas espectadores. Podemos, no máximo, vaiar, mas não conseguimos mudar a história. As Polianas de plantão — e são tantas — vão, como de hábito, elaborar ilusões sobre as possibilidades de mudança. Que nada! A via crucis deve continuar. O País pode mudar? Sim, no momento que o povo se recusar a ser levado ao Gólgota para o sacrifício.

Marco Antonio Villa

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