Há anos carrego comigo uma bandeira do Brasil em uma corrente. Sou daqueles que, quando bem mais jovem, ficava orgulhoso e se emocionava ao ouvir o hino nacional. Fiquei contente quando há dias li um texto de meu colega (e bússola para o jornalismo) Juan Arias, no qual caracterizava o nosso país como um “alegre caleidoscópio de felicidade”. Mas, ao contrário dele, não consigo mais ser tão otimista assim. Talvez o meu aparelho esteja embaçado e tenha se transformado em um caleidoscópio da desesperança.
Os escândalos de corrupção que varrem o país colaboram para o desânimo. A apreensão de 51 milhões de reais em um apartamento que era atribuído a Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula e Temer, trouxe uma sensação de impotência. Debilidade total. Milhões de brasileiros sabem que dificilmente terão acesso a tanto dinheiro durante toda a vida. A não ser que faça parte de esquemas criminosos. Ou ganhe na loteria.
Há pouco mais de um ano, na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, sentiu-se um sopro de esperança. Comentei com alguns amigos na época: “Esse é o meu país! Não aquele mar de corrupção que vemos todos os dias. Não aquelas brigas entre políticos para ver quem toma o poder do outro, sem pensar naqueles que eles governam. Ou deveriam governar”. Mas, como quase tudo de bom que há por aqui, durou muito pouco. As recorrentes denúncias de corrupção envolvendo até o que deveria ser o nosso “pão e circo”, mais uma vez, nos colocam para baixo.
O horizonte não parece nada animador. Mirando 2018, está claro que a renovação da classe política, por enquanto, está longe de ocorrer. E os que até o momento levantaram o dedo para sugerir uma eventual candidatura trazem mais preocupações do que empolgações. Uns têm discursos machistas, retrógrados, reacionários e chegam ao disparate de defender o armamento da população e a pena de morte – sim, quem defende que policiais têm de matar criminosos está defendendo a pena capital. Outros, insistem na privatização de quase todos os serviços estatais. Há ainda os que querem ampliar ainda mais a máquina estatal e conceder crédito aos que não têm como pagar. Há mais divergências do que consensos. A classe política está perdida e desacreditada. E os cidadãos, inertes.
Sinto, infelizmente, que os avanços ocorridos nos últimos 20 serão jogados na lata de lixo. Alguns deles já o foram. Na área ambiental, são inúmeros os alertas dados pelas organizações especialistas do setor. Na indígena, idem. E os que combatem a corrupção (ou deveriam fazê-lo) protagonizam frequentes trocas de ofensas. Os ataques deixaram o campo envolvendo acusados e acusadores. Juízes, advogados e procuradores, muitas vezes, discutem como se estivessem em torcidas opostas em um estádio de futebol. Nestes últimos anos, várias linhas foram ultrapassadas. De todos os lados. Não há dúvidas.
A divisão com a qual nos deparamos no Brasil nas eleições de 2014 ainda está longe de chegar ao fim. A intolerância que atinge até uma exposição de arte em um museu tem tudo para se fortalecer. A verdade das redes sociais parece ser mais real do que tudo. Assim, parece que corremos o sério risco de ter de escolher, em 2018, entre o ruim e o péssimo. Torço para que eu esteja errado. Ou que meu caleidoscópio seja consertado.
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