terça-feira, 26 de setembro de 2017

Outro mundo

O ministro Gilmar Mendes e o ex-procurador-geral Rodrigo Janot podem não concordar em nada, mas comportam-se como se estivessem unidos para sempre pelo deputado Justo Veríssimo – os dois querem, antes de qualquer outra coisa, que “o povo se exploda”, como dizia o personagem de Chico Anísio. O público pagante de impostos, que sustenta a ambos, acaba de ter a oportunidade de ver um e outro, quase lado a lado, voando em grande estilo para a Europa – ou, pelo menos, num estilo acima da imensa maioria de brasileiros que viaja de avião, ou, mais ainda, de ônibus, trem de subúrbio e a pé. Até quase à véspera, chamavam-se mutuamente de bandidos e coisas talvez piores, na frente de todo o mundo. Mas na hora da vida boa estavam juntos, no mesmo avião e na mais perfeita paz do Senhor, como homens civilizados que são, com os salários em dia e pagos por você. E o que aconteceu com a sua briga de vida ou morte em torno dos ideais patrióticos que dizem defender? Vai saber.

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Mendes e Janot são um retrato impecável da infinita distância que separa gente como eles, majestades do nosso “Estado republicano”, e o resto da população do Brasil. São dois mundos que se afastam cada vez mais – o deles, que sobrevive, prospera e manda no país às custas do erário, e o dos brasileiros que trabalham para ganhar a vida como ela é. Mendes, mais uma vez, estava faltando ao serviço. Como fazem seus dez colegas de STF, diz o tempo todo que tem uma carga insuportável de trabalho, mas jamais explicará porque viaja em dias de expediente – isso porque já tem 60 dias de férias pagas. Janot, num país razoavelmente sério, não estaria passeando na Europa. Estaria, neste preciso momento, respondendo a algum processo por prevaricação ou coisa parecida – ou, pelo menos, tratando de se defender da perda do cargo e da aposentadoria, por inépcia e a bem do serviço público. Nenhum dos dois, é óbvio, está ligando a mínima para nada disso. Não têm de explicar nada. Não têm de justificar coisa nenhuma. Não têm de responder a ninguém. O povo que se exploda.

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