A caravana dele assemelha-se a do cearense Antônio Conselheiro (1830/1897), o peregrino, líder religioso, que arrastava centenas de fanáticos pelas estradas empoeiradas do Nordeste na sua pregação contra a República. Para aumentar o número de seguidores, manipulou a miséria e os seus miseráveis até culminar com a Guerra de Canudos. Por aqueles locais da caatinga também já apareceram outros heróis: Lampião, Padre Cícero e Floro Bartolomeu, todos imbuídos dos mesmos propósitos: fazer justiça e livrar o povo da fome atávica, mas tirar dele o apoio as suas causas políticas nem sempre nobres.
Não à toa, os que acolhem Lula nas suas andanças são os beneficiados do Bolsa Família, o programa do curral eleitoral. De ônibus, a pé e em comitivas pelas ruas, Lula e sua trupe vão de cidade em cidade divulgando o lema “Lula pelo Brasil”, replay de um filme preto e branco, desbotado e desfocado. E de quebra, ainda é homenageado com título de doutor honoris causas por algumas universidades federais, abastecidas com o dinheiro público, como aconteceu na cidade de Estância (SE) e Arapiraca (AL), por iniciativas de reitores retrógrados.
Os jornais têm noticiado a caravana lulista com discrição. As televisões, prudentemente, evitam exibir as cenas por considerar que Lula faz campanha antecipada para presidente da república. Na verdade, Lula quer transformar os conterrâneos em habeas corpus. O raciocínio é simples: como ele não conseguiu nenhum tipo de apoio popular, nenhuma manifestação de rua a seu favor no resto do país depois da condenação, agora procura a proteção dos nordestinos que lhes dão a liderança nas pesquisas. Planeja, com isso, sensibilizá-los para o caso de ser preso.
Engana-se. Se ele pensa numa rebelião por aquelas bandas, pode tirar o cavalinho da chuva. Com exceção de pequenos movimentos revolucionários locais, a história não registra nenhuma insurreição desse povo em defesa de alguma causa. O nordestino, pela sua carência, é sofrido, desinformado e alienado. Ainda troca o voto por um prato de comida e tem entre os seus heróis os políticos fisiológicos que usam o poder público para empregar e distribuir migalhas que os garantem no poder. Não foi diferente quando Lula assumiu a presidência. Em vez de criar programas que libertassem os seus conterrâneos desse atraso secular, ele fez exatamente o contrário por conhecer a gênese do seu povo: amarrou-o no Bolsa Família, mantendo-o refém do seu partido a troco de tostões. Assim, criou o curral eleitoral que garantiu a sua turma devorar os cofres públicos durante 14 anos.
Agora, ele volta ao Nordeste em campanha cumprindo uma agenda política. Quero, aqui, contribuir, modestamente, com a caravana em um roteiro alternativo: visita as obras inacabadas e sucateadas de transposição do São Francisco; a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, superfaturada em R$ 2,1 bilhões, núcleo da corrupção petista. Conhecer as rodovias esburacadas e destruídas, prefeituras falidas, plantações e gados devorados pela seca por falta de irrigação, crianças subnutridas e sem escolas, violência indiscriminada, desemprego pela estagnação da economia e a falta de hospitais e postos de saúde.
Infelizmente, companheiro Lula, este é o entulho que o PT deixou na porta de cada nordestino. Portanto, nada mudou, senão para pior. O avanço social tão propalado do seu governo não passou de propaganda enganosa. O Nordeste que você agora percorre novamente em busca de votos é o mesmo: miserável.
Assim, cegos aos problemas da região, lá vai o novo profeta e seus fanáticos distribuindo milagres para salvar os conterrâneos da fome. E o nordestino, coitado, ainda acredita.
Acorda, Nordeste!
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