segunda-feira, 31 de julho de 2017

Nem o diabo acredita

De longe, é tudo sempre inacreditável. Uma região inteira que se auto dispensou de fazer sentido. Demitiu o senso comum. Entender já não é possível. E o verdadeiro, não é mais verossímil.

De perto, o inacreditável é tangível. Concreto. Destrói vidas. Ruim para todos. Parte da realidade, enfim. Mas também não precisava ser aceitável. Deveria, aqui e ali, existir pelo menos algum espaço para indignação, ou mesmo reconhecimento dos problemas. Ou, sendo realmente otimista, para aprender com erros passados.

Ninguém gosta de má notícia. É natural. Mas vestir óculos cor-de-rosa o tempo todo não ajuda. Nunca. Ser enganado é um fato da vida. Auto-engano é culpa exclusivamente nossa.

A esta altura, imagino, todos já deveriam ter entendido que os problemas são complexos. E que, portanto, não serão resolvidos nem por salvadores, nem rapidamente, nem facilmente, nem sem sacrifício.

Presidente Michel Temer, ao lado do ministro da Economia, Henrique Meirelles, do ministro da Justiça, Torquato Jardim, e do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão
De que miséria riem os senhores?
Agora a gente deu para acreditar que um Estado da união que decretou falência a menos de um ano vai se recuperar simplesmente através da injeção de recursos a serem usados da mesma maneira. Como se repetir tudo do mesmo jeito pudesse gerar resultados diferentes.

No mesmo festival de auto-engano, lá vem anuncio de plano de segurança que vai resolver tudo. E que começa pela intervenção das forças armadas. Da até preguiça de falar disso. Notícia velha. E, pior, repetida, reciclada e vendida como novidade.

Na maior parte dos lugares, intervenção federal é atestado de incompetência do sistema político e administrativo. Fracasso de todos, eleitores e eleitos, enfim. Algo a ser evitado. Somente aceito de maneira relutante. Jamais com alegria. Com exceção, claro, do pais onde o inacreditável é sinônimo de aceitável.

Depois de dezenas de intervenções das forças armadas nos últimos anos, exercito patrulhando a rua não é sequer noticia nova. Faz tempo que deixou de ser remédio. É sintoma. De doença grave.

Mas a gente vai se acostumando. E empurra com a barriga. Envia dinheiro daqui. Declara insolvência dali. Atrasa pagamento. Deteriora serviço. E vai levando. Acostumados e completamente adaptados ao inaceitável.

Seguimos construindo com surpreendente zelo e vigor, a nossa versão particular de inferno. Nem o diabo acredita.

Elton Simões

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