Lula entendeu a ordem e assumiu o discurso de Odebrecht, até nas menores inflexões. Pela posição de Lula a favor da usina e contra o bagre, a então ministra do Ambiente Marina Silva começou ela própria a desbarrancar e acabou saindo. Depois de muitos estudos e concessões dos dois lados, o Ibama concedeu a licença. A construção da hidrelétrica foi completada em fins de 2016, ao custo de R$ 20 bilhões e, calcula-se, R$ 80 milhões em propinas para muita gente boa. Já o bagre está pagando para ver.
Apesar de sua importância para a população ribeirinha e o equilíbrio dos rios e igarapés da região, o bagre não tem prestígio político. Quando se trata de discutir os grandes problemas da Amazônia, seus colegas, o tambaqui e o tucunaré, têm lugar de destaque à mesa de reuniões da elite. O pirarucu, então, nem se fala —espalha os seus 200 kg numa poltrona na primeira fila.
Ao bagre resta a companhia da piranha, outra marginalizada, no fundo da assembleia.
Mas o preocupante na história é o que, graças às delações em curso, estamos sabendo agora —que Emílio Odebrecht só faltava dar ordens a Lula em questões de interesse nacional.
Se as piores previsões se confirmarem, quem vai pagar pelo extermínio de milhões de humildes bagres brasileiros?
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