quarta-feira, 19 de abril de 2017

Humildes bagres brasileiros

Em 2007, o então presidente Lula foi chamado a um canto por seu parceiro Emílio Odebrecht, que se queixou de que o Ibama estava dificultando a concessão de licença ambiental para a construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia. O Ibama alegava que as enchentes, os desbarrancamentos e o cimento despejado no rio Madeira, equivalente à construção de 40 Maracanãs, poriam em risco os bagres do rio. Emílio Odebrecht disse a Lula: "O Brasil precisando de energia e vai ser paralisado pelo bagre? O senhor precisa tomar uma decisão!".

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Lula entendeu a ordem e assumiu o discurso de Odebrecht, até nas menores inflexões. Pela posição de Lula a favor da usina e contra o bagre, a então ministra do Ambiente Marina Silva começou ela própria a desbarrancar e acabou saindo. Depois de muitos estudos e concessões dos dois lados, o Ibama concedeu a licença. A construção da hidrelétrica foi completada em fins de 2016, ao custo de R$ 20 bilhões e, calcula-se, R$ 80 milhões em propinas para muita gente boa. Já o bagre está pagando para ver.

Apesar de sua importância para a população ribeirinha e o equilíbrio dos rios e igarapés da região, o bagre não tem prestígio político. Quando se trata de discutir os grandes problemas da Amazônia, seus colegas, o tambaqui e o tucunaré, têm lugar de destaque à mesa de reuniões da elite. O pirarucu, então, nem se fala —espalha os seus 200 kg numa poltrona na primeira fila.

Ao bagre resta a companhia da piranha, outra marginalizada, no fundo da assembleia.

Mas o preocupante na história é o que, graças às delações em curso, estamos sabendo agora —que Emílio Odebrecht só faltava dar ordens a Lula em questões de interesse nacional.

Se as piores previsões se confirmarem, quem vai pagar pelo extermínio de milhões de humildes bagres brasileiros?

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