Tal qual Diógenes, o cínico que percorria as ruas de Atenas com uma lamparina em busca de um homem honesto, também estamos à cata de uma saída. Não apenas de uma figura proba, mas de uma solução concertada e transparente para a superação da maior crise ética da nossa história.
Para onde apontar a nossa lanterna de Diógenes, eis o dilema. Em meio a tanto breu alguns vislumbram luz em um acordão que salvaria a tudo e a todos.
Mas que há forças empenhadas em um grande acordo, não há dúvidas.
Na verdade, negocia-se com o que não se tem: a garantia de Lula na cédula de 2018. Ora, tais fatores fogem ao controle da esfera política. Seria necessária a anuência do STF, da PGR, da Justiça Federal, sem falar na aquiescência da sociedade.
E quais são os blocos de forças interessadas no acordão?
O primeiro é o lulopetismo. Como as delações da Odebrecht desnudaram Lula e deixaram expostas as vísceras do PT, o comissariado passou a defender um “grande entendimento nacional”, disposto a fazer um gesto “generoso” e se compor com quem até ontem chamava de golpistas.
Como sempre, douram a pilantragem com argumentos sofisticados. Ora, dizem, se Luiz Carlos Prestes se compôs com Getúlio Vargas assim como Winston Churchill com Josef Stalin, será absolutamente legítimo um acordo com Temer, face à “emergência nacional”.
Há um lado esquizofrênico na tese. Acusam Temer de ser ilegítimo para promover as reformas previdenciária e trabalhista, mas teria legitimidade para comandar um pacto político.
O discurso do risco da ditadura do “Partido da Lava Jato” é tão sem pé nem cabeça como o foi a retórica de que a Lava Jato nasceu para exterminar o PT e blindar o PSDB. Agora ampliaram o leque: acusam a Operação de querer exterminar a política e todos os partidos.
O discurso soa como música nos ouvidos do segundo bloco interessado num acordão. A delação da Odebrecht acendeu o sinal vermelho para forças patrimonialistas. Elas começam a ver na candidatura do Lula, de goela larga e couraça grossa, o crocodilo que pode abocanhar a Lava Jato.
Negar o acordão não é sinônimo da negação do diálogo aberto e transparente, com vistas a construção de outro padrão de se fazer política, pautado por valores republicanos. É da nossa cultura a busca de soluções pactuadas, como aconteceu na transição da ditadura para a democracia, em 1985, para dar o exemplo mais recente.
A diferença é que não há um precedente em nossa história de uma crise institucional decorrente principalmente da erosão ética do seu sistema político e de suas instituições. Esse não foi o fator determinante para o fim da República Velha, do Estado Novo, da ruptura democrática de 1964 e do fim do regime militar, muito embora a manipulação da bandeira da anticorrupção tenha sido um dos ingredientes das crises de 1954 e 1964.
Esse componente inusitado atingiu fortemente os principais atores políticos, subtraindo sua legitimidade para selar uma pactuação palatável à sociedade.
Mesmo dando razão à afirmação do ex-ministro do STF Célio Borja, segundo a qual “a generalização é a salvação dos canalhas”, é inescapável a pergunta: quem sobrou com estatura e legitimidade para avalizar um novo pacto político?
Idealmente, o Congresso deveria ser o sujeito coletivo para a consecução desse objetivo. Mas dá para apostar no espírito patriótico de quem opera, antes de tudo, com o espírito de corpo? E se não for o Congresso, quem desempenhará esse papel, uma nova Constituinte?
Ainda não há respostas para as incertezas. Com a mãe de todas as bombas, inicia-se o fim de um ciclo inaugurado pela Constituição de 1988. São os estertores - ora melancólicos, ora dramáticos - da chamada Nova República, o período que compreende as presidências de Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma e Temer.
O velho sistema político morreu, mas o novo ainda não apareceu.
Enquanto isto não acontecer estaremos como Diógenes e sua lanterna, perambulando pelas ruas em busca da saída que nos tire das trevas.
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