domingo, 2 de abril de 2017

Escola púbica: falência e renascimento

Desculpe o “sincericídio”: escola pública é a cloaca da sociedade e da comunidade que ali deposita suas mazelas. Quais os grandes problemas da humanidade? Drogas, álcool, violência, sexualidade prematura e promíscua? Desordens comportamentais, transgressões, depressão e estresse? Olhem as escolas públicas e terão uma visão do mundo que nos rodeia. O DNA da sociedade é gerado dentro da comunidade escolar. O que fazemos além de fecharmos o nariz frente a realidade tão pútrida e nos afastarmos desse espelho socioeconômico e cultural que nos recusamos a olhar?

O que é público é de todos e de ninguém. Saúde, educação e moradia são elementos básicos para a dignidade da vida, função do município, do Estado e da Federação. Será que merecemos? O que é coletivo deixem que alguém resolva. Quem?

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Acomodados, tomamos um lugar espremido em um meio de transporte, esperamos meses por exames, fazemos de conta que os filhos adoram ir para escola, que os educadores estão superfelizes em seu cotidiano e que os pais estão ligados na escolaridade de seus filhos. Mas, de repente, surge no YouTube o vídeo incômodo de adolescentes se espancando, de professores apanhando e do quase nada que as escolas possuem sendo roubado: computadores primitivos, alimentos da merenda e outras coisinhas mais. A escola é estuprada diariamente diante de nossos olhos, e achamos que é normal. A escola vive em greve ou faltam professores, e achamos isso normal. A escola é invadida por traficantes e usuários de drogas, e trocamos o canal. A escola grita “S.O.S”, e assistimos a mais uma fase da Lava Jato, praguejando contra um bando de corruptos líderes, mas nos ensurdecemos aos sinais de falência terminal das escolas. Filho de político não frequenta escolas públicas, não pega ônibus no fim do expediente nem é operado em hospitais públicos, dizemos nós, cidadãos ilibados e preocupados com o social.

Balela. No mundo real, professores mal remunerados padecem de distúrbios psicológicos, afastam-se ou abandonam a profissão. Alunos alienados por seus celulares perdem a noção básica de limites, de respeito e de civilidade. Pais sem tempo ou ausentes esperam que a escola “eduque” seus filhos. Tempos difíceis se avizinham. Seremos liderados pelo resultante de nosso individualismo, de nossa indiferença e de nossa descrença. Merecemos a escola que temos, o sistema de saúde deprimente e os serviços públicos de quinta categoria. Pagaremos por toda a nossa existência, pelo que não fazemos. Engolimos goela abaixo toda a podridão de que somos cúmplices, por nosso silêncio, nosso egoísmo, nossa cegueira das abissais diferenças socioeconômicas e nossa privação de tecnologia imposta aos cidadãos da base da pirâmide social.

Desemprego por retardo tecnológico. Internet das coisas substitui a mão de obra. O ser humano é descartável. Para que estudar? Ou ensinar? Ou educar? Porque educação é sagrada, professores são heróis anônimos dedicados a uma batalha na qual são a linha de frente, que tomba sacrificada por uma vitória improvável. E, no meio do caos, vemos aqui e ali escolas públicas que conseguem o milagre da multiplicação das migalhas e se tornam modelo e referência com notas impressionantes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou no Pisa (sigla em inglês para Programa de Avaliação Internacional de Estudantes).

Que morram em paz, escolas públicas! Pois só assim renascerá a alma de cidadãos altruístas e sensíveis. Que nesse ressuscitar voltem a ser belas e atraentes, tornando-se ponto de encontro de uma geração que busca transferir seus conhecimentos para outra geração, que, agradecida e respeitosa, possa aprender e se tornar melhor do que a anterior.

Sonho (por que não? ) com uma comunidade escolar desafiadora, sem quatro paredes, quadro negro, giz e pichação. Imagino uma árvore, um mestre e seus discípulos, algo crístico e natural, ou tomo como exemplo os tempos da Grécia, onde a curiosidade, a observação e a sabedoria nos ensinavam a viver. Sim, amei estudar, sou gratíssimo a todos os meus mestres, e é a eles que dedico esta coluna.

Eduardo Aquino

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