domingo, 16 de abril de 2017

A salvação da lavoura política

A dose é cavalar: 320 pedidos de investigação feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. 180 políticos. De 2006 até 2016, o departamento de “operações estruturadas”, também conhecido como “departamento da propina”, do Grupo Odebrecht, movimentou R$ 3,3 bilhões. Esta é a grande fatura da Operação Lava Jato pela contabilidade da retumbante lista Fachin.

O que poderá acontecer com os nomeados, políticos de todas as instâncias federativas?

A primeira imagem que vem à mente é a de um imenso funil: o volume despejado não sai todo pelo cano. Grande parte sai pelas bordas. E outras pelos buracos ao longo do percurso.


Ao final de um longo processo de depuração, sobrará uma parcela pequena de pessoas condenadas, com uma parte aliviada pela prescrição de casos, outra sendo arquivada, ainda na fase de denúncia, por falta de provas, enquanto um terceiro grupo deverá se safar da condição de réus.

Ademais, um remédio chamado alongol atenuará a dor de cabeça de bom número de implicados, eis que o processo para reunir provas e contraprovas, colher depoimentos, interpor e acolher recursos junto às instâncias superiores e chegar ao julgamento final, atravessa uma distância oceânica. E a temperatura, naquele momento, será bastante diferente do clima fervente do início da temporada investigativa.

Analisemos, agora, o impacto da bomba Fachin sobre o universo da política. De início, ressalta-se o fato de que os estilhaços fazem furos em todos os partidos, particularmente nos grandes e médios, o que os iguala na moldura das imagens. Significa aduzir que não há vantagem de um em relação a outro. Todos entraram na antecâmera do inferno.

O cidadão, mesmo o mais ilustrado, não conseguirá distinguir os tipos de acusação – corrupção passiva, corrupção ativa, caixa dois e lavagem de dinheiro. Tudo é ilícito, tudo é motivo para condenação. A classe política, que já frequenta o patamar mais baixo da imagem, aprofunda seus eixos na lama.

O que resta fazer para que os políticos obtenham avaliação menos negativa? Não adianta gesto isolado de uns tentando negar participação no balcão da propina. Notas para a imprensa dizendo “confiar na justiça”, “os delatores mentem”, “nunca participaram de conluios”, não conseguirão aliviar a posição no ranking da negatividade. Por isso, qualquer grande gesto na retaguarda da defesa precisa ter uma identidade coletiva.

Os políticos não terão guarida fora do sistema de decisões voltadas para o bem- estar das pessoas. A tese é a de que a ‘salvação da lavoura’, para usar uma expressão popular, dependerá das chuvas que cairão na roça da economia.

Traduzindo em miúdos: o resgate da economia e a consequente melhoria dos padrões de vida dos brasileiros, tanto frequentadores das margens quanto os do meio da pirâmide, aliviarão o ônus gerado aos políticos pela Operação Lava Jato.

A economia funciona como locomotiva da vida cotidiana. Ela puxa o “animus animandi” da sociedade, seus humores, seu bem-estar, seu mal-estar. Se os consumidores engordarem o bolso, terão barrigas mais satisfeitas e cabeças menos nervosas. O espírito punitivo dos agentes da Justiça entraria em refluxo, com menor disposição para punir e prender.

Essa tese receberá questionamentos, mas este analista aposta na tese de que um país com maior grau de satisfação tende a ser mais complacente com a esfera política.

Portanto, não haverá “salvação” aos políticos fora do esforço para colocar o país nos trilhos. Significa intuir que os agentes carecem fazer mais que um acordo pela governabilidade: um pacto pelas reformas. Daí a necessidade de uma linguagem homogênea, integrada, com o mínimo de dissensões, com foco na aprovação de medidas que possam redundar em benefícios gerais.

A aprovação do marco regulatório da Terceirização começa a dar resultados. O segmento do Trabalho Temporário, cujo prazo foi ampliado para contratos de 180 dias, reage.

Empresários do setor informam que, nos últimos dias, demandas ao setor chegam a 40% de aumento. A reforma da legislação trabalhista colocará o Brasil em larga trajetória, onde as novas modalidades de trabalho consolidarão a tendência de reforço da empregabilidade.

A reforma da Previdência, em processo de debate, apesar de mais enxuta, ampliará o grau de confiança de investidores. A arrumação do país, que foi jogado no mais profundo buraco da recessão, deverá oxigenar a vida produtiva. Mas, para que essa meta seja completada, a classe política não pode continuar no balcão de barganhas, fazendo pressão, cobrando espaços na máquina governamental, exigindo cargos. A atitude mais lógica é perfilar ao lado do programa reformista, sugerindo aperfeiçoamentos, apoiando e votando.

A Operação Lava Jato tem um encontro marcado com a turma que alistou em suas fileiras. Esse encontro poderá ser mais alegre ou mais fúnebre. Vai depender do clima a se respirar nos próximos tempos.

Nesse caso, o próprio núcleo da política funcionará como boa fornada de meteorologistas. Se souberem entender a dinâmica dos astros, os políticos escolherão, desde já, as medidas para aliviar as altas temperaturas do amanhã. Que tal, por exemplo, escolher instrumentos mais adequados para balizar o pleito de 2018?

Se adotarmos critérios racionais e condizentes com a ética e a moral, certamente os políticos subirão no ranking do respeito (hoje praticamente no grau zero) do eleitorado. Se nada for feito nesse capítulo, é bem provável que enfrentaremos a campanha mais surpreendente desses turbulentos tempos.

Ao Executivo cabe a liderança do processo. Urge fazer forte articulação para integrar propósitos entre as reformas que promove, as demandas reais da população, os altos interesses da Nação e o pragmatismo da classe política. O presidente é um homem do diálogo, que prima pelo bom senso.

Resumo da história: a Operação Lava Jato faz um bem enorme ao país. Passa uma borracha na sujeira e ainda obriga cada protagonista da política a cumprir bem o seu dever.

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