Deixamos de enxergar as vidas que, afinal de contas, estão atrás dos números. Não mais existem tragédias. Apenas estatísticas. Negativas, sem duvida. Mas frias. Distantes. Números, apenas.
Talvez seja este o maior perigo. Trocar indignação por indiferença gera conforto passageiro, efêmero. E cria ambiente desumano, onde sobreviver é simplesmente função do acaso. E viver é tarefa quase impossível.
Enquanto os preparativos para o carnaval seguem funcionando como relógio, assiste-se a degradação da capacidade do Estado de gerar os seus benefícios mais básicos. Já vai longe a lembrança do tempo em que a rua era bem publico, acessível a todos, e disponível a qualquer hora.
Nestes tempos estranhos, o Estado, que já nunca foi muito justo, falha, abandona, e somente não decepciona porque as expectativas são muito baixas e continuam caindo. Vive-se amostra do caos gerado pela interrupção do processo civilizatório.
No país onde ninguém quer seguir a regra e todos querem ser exceção, é natural que o colapso seja comandado (ou talvez capitaneado) por aqueles que, de alguma maneira, tornaram os recursos públicos em monopólio de corporações.
É o país da insegurança. Do caos total. Da meia-entrada. E de justiça alguma. Onde se segue lógica peculiar onde privilégios e exceções viram regra. E soterram toda e qualquer possibilidade de sobrevivência no curto, no médio, e no longo prazo.
Máquina de transformar impostos em desperdício; indiferença em violência; vidas em números; e tragédias em estatísticas. Onde a pele dura da realidade justifica, mas não perdoa a desumanidade. Nem desculpa comportamento desumano
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