Em 1994, cansados da crise e da recessão, os italianos aceitaram que, sem corrupção, não há crescimento econômico. Resultado: hoje a Itália tem o maior índice de corrupção do Primeiro Mundo, e o pior desempenho econômico, com o PIB estagnado no nível do ano 2000.
Os dados das pesquisas italianas citados pela economista Maria Cristina Pinotti falam alto e gesticulam muito:
Só 25% dos italianos consideram o seu Judiciário independente, contra 54% dos franceses e 69% dos alemães. Para 42% dos italianos, os juízes aceitam pressões políticas, contra 29% dos franceses e só 14% dos alemães. Na Itália, um processo de primeira instância leva em média 577 dias para ser julgado, contra 322 na França e 189 na Alemanha.
Fustigado pela PGR e a Lava-Jato, o Senado rompeu o pacto de cumplicidade com o Judiciário VIP e aprovou leis duras e justas sobre o teto salarial constitucional, atingindo os marajás dos Três Poderes, como exigem a Constituição e a sociedade que paga a conta.
Coibir o abuso de autoridade não pode ser só uma vingança de Renan, precisa ser discutido com serenidade e punido com regras claras, que não permitam interpretações em que os bandidos julguem os xerifes por cumprirem a lei.
Pós-Itália não é só um codinome na planilha de propinas da Odebrecht, é um aviso: o desastre italiano mostrou que não é a Justiça que prejudica a economia, mas a corrupção institucionalizada.
Nelson Motta
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