É duro ver assuntos estratégicos para o futuro econômico do país sendo tratados como entraves ao nosso desenvolvimento. Olhamos a realidade através de um espelho que, se por um lado, reflete a realidade, por outro inverte a leitura da imagem. O meio ambiente sempre é tratado como “café com leite” nas esferas de governo. Porém, enquanto a riqueza do solo e os ciclos de chuva são a matéria-prima para o crescimento de nossa economia, seguimos desmatando e envenenando nossos biomas. Se a qualidade e a quantidade de água são determinantes para a saúde da população, a crise hídrica e a falta de tratamento de esgoto é real em grande parte das casas brasileiras.
Banksy |
O que preocupa é o avanço do caos ambiental. A realidade é de baías, rios e lagoas contaminados por esgoto e lixo, manguezais aterrados, costões rochosos ocupados e crescimento urbano desordenado. No campo, os números não mentem: a Mata Atlântica, onde vive mais de 70% da população brasileira, tem cerca de 90% de sua área desmatada. A questão não é só de preservação, mas de enormes quantidades de terra onde se produz pouco mais que capim. Nem bem áreas produtivas, muito menos um ambiente natural. Não parece razoável trocar uma das maiores biodiversidades do planeta, fonte de riquezas ainda hoje desconhecidas, por pastos pouco produtivos. E, se pensarmos nas áreas de alto rendimento no Centro-Sul do país, onde 50% do Cerrado foram desmatados, são atividades agropecuárias que dependem diretamente do regime de chuvas da Amazônia, bioma que perdeu 20% de suas florestas nos últimos 50 anos.
Os compromissos assumidos pelo Brasil — internamente com o Código Florestal para a restauração de 21 milhões de hectares, e internacionalmente com o Acordo de Paris de restaurar 12 milhões de hectares até 2030 — nos oferecem uma oportunidade única de reflorestar o país.
No ano passado lançamos a campanha Da Pé, parceria entre o programa Um Pé de Quê? e a Fundação SOS Mata Atlântica para a recuperação de 1,33 quilômetros de matas ciliares às margens do Rio Una, na bacia do Rio Paraíba do Sul, que abastece os estados de SP, RJ e MG. Por meio de financiamento coletivo, impactamos mais de 3,6 milhões de pessoas e arrecadamos R$ 400 mil que foram revertidos no plantio de 20 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. Agora, tornamos a campanha anual e a segunda fase está no ar arrecadando recursos para dois novos plantios: em Taubaté (SP) e no Parque Nacional da Tijuca, no Rio.
Morando num país com nome de árvore e numa cidade com nome de rio, acredito que a natureza tem o poder de restaurar os tecidos sociais. Se uma floresta regula o clima de uma região, água limpa e farta é saúde para todos. Conviver com os ciclos de vida traz conhecimento e valores na educação dos nossos filhos. Um rio limpo é opção de lazer, o que promove a integração social e a segurança. Uma praia limpa vibra a economia de uma região. Não é “apenas uma questão de meio ambiente”. É a nossa economia, saúde, segurança e educação. Não é luxo, é condição básica.
Estevão Ciavatta
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