terça-feira, 21 de junho de 2016

O Grillo da Itália

Roma terá sua primeira prefeita, Virgínia Raggi, advogada de 37 anos, eleita com 67% dos votos dados ao M5S ou MoVimento 5 Stelle, autodefinido como um “não partido”, que, no domingo, elegeu 19 de seus 20 candidatos.

Além de Roma, entre as grandes cidades, levou também Turim, que será governada por Chiara Appendino, de 31 anos, eleita com 54% dos votos. (Mais duas jovens “representantes do mundo feminino” dirá o presidente interino do Brasil).

O M5S não para de crescer. Nasceu em 2009, liderado por Beppe Grillo, famoso e controverso comediante, estrela da televisão e da Internet. Tem o combate à corrupção como principal bandeira e o propósito de apear partidos tradicionais para colocar cidadãos comuns no poder e, no futuro, estabelecer uma democracia direta, via da Internet. No gogó faz oposição a tudo.

Ainda que assentado no campo da nova centro-direita, o M5S é ambientalista, defensor das energias renováveis, da Internet livre e contrário à União Europeia. Engole votos, defendendo:
- combate permanente a evasão fiscal e aos crimes de colarinho branco

- criação de programa de ajuda financeira internacional

- fim das privatizações

- redução de impostos para pequenas empresas

Qualquer semelhança ...

Nas eleições nacionais de 2013, para o Parlamento Italiano, obteve 26% da câmara de deputados (a maior bancada em termos de partidos isolados) e 24% do senado. Neste ano, foi às urnas com o grito de guerra: OratoccaAnoi! E panfletava: A Máfia vota PD, e você?

PD é o Partido Democrático, dito de centro-esquerda, do primeiro ministro Matteo Ranzi – cada vez mais, numa saia justíssima político eleitoral.

Pesquisa diz que os italianos votam no M5S motivados por:

- 43% descrença na classe política tradicional

- 30% do desejo de transparência na gestão pública

- 27% o fim das políticas neoliberais

Qualquer semelhança temática é mera coincidência.


A prefeita eleita de Roma simplificou a vitória: vai tornar Roma uma cidade normal. Seja lá o que isso signifique.

A cidade de Roma deve 12 bilhões de euros. Seja lá o que isso signifique.

O estado do Rio de Janeiro, que o governador disse estar falido e declarou estado de calamidade publica, tem déficit de 19 bilhões de reais. “Fez dívida de 22 bilhões, pagou 44 e ainda deve 70”, lamenta o governador.

O povo do Rio sabe o que isso significa.

Dizem os doutores economista que a Itália, terceira economia da zona do Euro, respira melhor, mas não tirou o pé da cova da crise. O desemprego ainda passa dos 11% e chega aos 39% entre os jovens. Em 2015, a dívida pública batia em 129% do PIB. Mas a inflação em março/2016 foi de – 0,2%. Seja lá o que isso signifique.

O IPCA brasileiro de maio/2016 fechou com alta de 0,78%, o mais alto para maio desde 2008. A dívida total dos Estados e do Distrito Federal com a União soma R$ 427 bilhões, a pagar em prestações mensais. O povo brasileiro sabe o que isso significa.

Num rol de muitos processos, o genovês Beppe, comandante em chefe do M5S, até já respondeu por desobediência ao Estado, quando pregou que a polícia não deveria mais escoltar políticos. “Não se pode proteger essa classe política que levou a Itália a entrar em colapso.”

Língua solta, o Beppe Grillo também acredita que a Itália será um dominó, um contágio europeu, destinado a devolver aos cidadãos a soberania nacional subtraída pelo sistema financeiro. Oi?

O respeitado jornal La República avalia que as vitórias do Movimento deixarão marca na política italiana, uma marca de descontinuidade e possível ruptura do sistema. Seja lá o que isso signifique.

O Brasil tem crise econômica e caos político, onde cabem uma presidenta afastada, outro interino. Os dois com mais de 60% de desconfiança da população. Também tem uma classe política, injusta ou justamente, sobre suspeição.

Em outubro, Itália e Brasil vão às urnas. Lá haverá referendo para, inclusive, alterar o equilíbrio bicameral do Congresso. Aqui, vamos eleger prefeitos e vereadores de 5.570 municípios. Lá, os partidários do Grillo serão os fieis (ou infiéis) da balança. Aqui, ainda nem sabemos que grilo vai dar.

PS.: Na noite de sexta-feira, 17, um grupo de 15 fascistas botou terror no Campus da UNB. Hoje, muitas dezenas de alunos reagiram no mesmo Campus: Aqui não tem espaço pra fascista!

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