– Então vamos às persianas...
– Não, respondeu o professor, continuemos com as cortinas. Peço desculpas. Eu pensava nas “cortinas” de teatro: aquelas que marcam irremediavelmente o fim de um ato ou da peça!
– Entendo, mas ainda estou no ar.
O professor que era um velho conservador e que foi estigmatizado como homofóbico por um f.d.p., e era chamado por alguns “amigos” e alunos de golpista, explicou.
– Quando inocentemente me perguntam “o que é o Brasil?”, eu candidamente penso numa sociedade que não consegue fechar etapas, períodos, crises ou até mesmo portas! Somos das aberturas e inaugurações. Amamos as novelas: um gênero no qual, um fio produz muitos enredos, que prendem todo mundo a todo mundo. O drama reafirma uma vida social interligada na qual o fechamento é difícil.
Se nós não conseguimos nos despedir depois de um jantar ou começar ou terminar alguma coisa na hora marcada, será que fechamos o império e começamos a República?
– Deixa eu te falar uma coisa – continuou –, nos Estados Unidos, as pessoas são, como viu Tocqueville, pessimamente educadas. Dizem “até logo” num segundo e vão diretamente a um assunto. Aqui, levamos horas nos despedindo no elevador. Mas, lá, os bandidos são presos; aqui, reeleitos.
*
– Há diferença entre vagabundo e malandro?
– Sem dúvida. O vagabundo recusa o sistema. O malandro usa muito bem o sistema.
*
Agora, com a devida vênia, eu pergunto ao Temer, presidente interino e constitucionalista, ao Temer professor e ao Michel poeta: quem nomeia esses atores tão lambuzados?
Seria o poeta que vive no mundo da lua? Ou é o constitucionalista que ama os axiomas da lei luso-brasileira? Temos um “Ministério da Transparência” porque, admitindo sem saber o nosso amor pelas ambiguidades do “rabo preso”, somos intransparentes. Não é preciso ler Freud!
Em todo lugar, governar é ser transparente, menos no Brasil. Aqui, governar é cuidar, enganar, roubar e mentir, mas, acima de tudo, é “se arrumar”. Se assim não fosse, o conceito de “transparência” – revelador nas suas conotações psicológicas – não seria chamado ao palco.
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– Mas, professor, teatro é ficção, mas política tem consequências. Para muitos, ela é a única realidade. Quem não pensa o mundo politicamente é, como o senhor, reacionário. E, no entanto, todo esse realismo se tornou uma perversa ficção neste Brasil onde todos os desentendidos ocorrem de modo avassalador. Poucos não têm o “rabo preso”. Eis uma triste figura. Haveria alguém livre? Sem dúvida, mas a serem contados nos dedos. Como ser livre sem ter a capacidade de dizer não a si mesmo? Esse axioma das democracias igualitárias.
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Como sair da crise em alguém que esteja um pouco fora dela?
O velho professor não ousa responder. Tem medo de ser admoestado pelos mais puros adeptos da fantasia. Todo sistema canibaliza seus membros, mas, também, é por eles controlado. No nosso caso, seria preciso menos confusão entre atores e papéis, entre o real e a ideologia, entre o poder como meio para a riqueza à custa do povo naquilo que se chama populismo.
Afinal, como disse o laureado Paul Krugman no The New York Times, os empresários – estilo Donald e Marcelinho Odebrecht – descobriram que investir em políticos e partidos produz excelentes ganhos de capital.
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– Neste momento de “crise”, neste instante metafísico e transcendental em que vivemos, pois a crise que faz com que tudo fique próximo e distante ao mesmo tempo, não estaríamos vivendo sem querer saber, mas já sabendo, a compra do mundo pelo capitalismo? Pelo capitalismo como mais um trivial negócio capitalista? Afinal, há um capitalismo como estilo de vida, e outro que deseja ser o englobador exclusivo da vida no planeta. Para este tipo de capitalismo, nada é sagrado, exceto ele próprio. Estamos, agora, tratando de tornar a Terra um negócio. O último negócio...
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